ATA DA NONAGÉSIMA NONA SESSÃO ORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA
ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 07.11.1997.
Aos sete dias do mês de novembro do ano de
mil novecentos e noventa e sete reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio
Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às nove horas foi realizada
a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adeli Sell, Clovis Ilgenfritz,
Cyro Martini, Gerson Almeida, Guilherme Barbosa, Hélio Corbellini, João Carlos
Nedel, José Valdir, Juarez Pinheiro, Renato Guimarães, Sônia Santos e Tereza
Franco. Ainda, durante a Sessão, compareceram os Vereadores Anamaria Negroni,
Antonio Hohlfeldt, Antônio Losada, Cláudio Sebenelo, Clênia Maranhão, Décio
Schauren, Eliseu Sabino, Elói Guimarães, Fernando Záchia, Isaac Ainhorn, João
Dib, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Maria do Rosário, Nereu D'Ávila, Paulo Brum,
Pedro Américo Leal, Pedro Ruas e Reginaldo Pujol. Constatada a existência de
"quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos e
determinou a distribuição em avulsos de cópias da Ata da Nonagésima Sétima
Sessão Ordinária, que foi aprovada. À MESA foram encaminhados: pelo Vereador
Gerson Almeida, os Projetos de Lei do Legislativo nºs 196 e 197/97 (Processos
nºs 3328 e 3329/97, respectivamente); pelo Vereador Gilberto Batista, os
Projetos de Lei do Legislativo nºs 198 e 199/97 (Processos nºs 3331 e 3335/97,
respectivamente); pelo Vereador Hélio Corbellini, o Projeto de Resolução nº
33/97 (Processo nº 3313/97); pelo Vereador Isaac Ainhorn, o Projeto de Lei do
Legislativo nº 192/97 (Processo nº 3300/97); pelo Vereador Juarez Pinheiro, o
Projeto de Lei do Legislativo nº 200/97 (Processo nº 3347/97); pelo Vereador
Luiz Braz, os Pedidos de Informações nºs 176 e 177/97 (Processos nºs 3326 e
3327/97, respectivamente). Ainda, foram apregoados Ofícios do Senhor Prefeito
Municipal de Porto Alegre, de nº 498/97, informando que o Vice-Prefeito deverá
ausentar-se do Município nos dias doze e treze de novembro do corrente, para
viagem ao Rio de Janeiro, onde participará do Encontro sobre Diretrizes para
uma Política Nacional de Saneamento Ambiental, e de nºs 493 e 494/97,
encaminhando, respectivamente, o
Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 09/97 (Processo nº 3375/97)
e o Projeto de Lei do Executivo nº 54/97 (Processo nº 3372/97). Do EXPEDIENTE
constaram: Ofícios nºs 491/97, do Senhor Prefeito Municipal de Porto Alegre;
136/97, do Senhor Roberto Pandolfo, Diretor Regional da Viação Aérea
Rio-Grandense - VARIG; 215/97, do Deputado
Estadual Paulo Azeredo, Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e
Cooperativismo, da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul;
357/97, do Senhor José Clovis de Azevedo, Secretário Municipal de Educação de
Porto Alegre; 408 e 411/97, do Senhor Paulo Vidal, Deputado Estadual/RS;
839/97, do Senhor Mauro Knijnik, Presidente da Federação das Associações Co merciais do Rio Grande do Sul - FEDERASUL;
1225/97, do Senhor Vicente Joaquim Bogo, Vice-Governador do Estado do Rio
Grande do Sul; 1397, 1412, 1414, 1416 e 1417/97, do Senhor Renato da Costa
Figueira, Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Rio Grande do
Sul; Telegramas: do Senhor Antônio Britto, Governador do Estado do Rio Grande
do Sul; do Senhor Cézar Schirmer, Secretário de Estado da Agricultura e
Abastecimento do Rio Grande do Sul; do Senhor Arno Frantz, Deputado
Estadual/RS; do Senhor Iradir Pietroski, Secretário do Trabalho, Cidadania e
Assistência Social do Rio Grande do Sul; do Senhor Fernando Pinto,
Diretor-Presidente da Viação Aérea Rio-Grandense - VARIG; da Senhora Maria do
Carmo Bueno, Deputada Estadual/RS; do Senador Pedro Simon; do Senhor José
Otávio Germano, Secretário de Estado dos Transportes/RS; do Senhor Arno Frantz,
Deputado Estadual/RS; do Senhor Marcos Rolim, Deputado Estadual/RS; do Senador
José Fogaça; do Deputado Federal Nelson Harter; da Senadora Emília Fernandes;
Convites: da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através da Secretaria
Municipal da Produção, Indústria e Comércio, para a abertura da 7ª Feira
Latino-Americana de Artesanato; da Prefeitura Municipal de Porto Alegre,
através da Secretaria de Municipal de Obras e Viação e do Departamento
Municipal de Habitação, para a entrega de obras de pavimentação na Região Humaitá/Navegantes;
da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de
Educação, para almoço em homenagem aos trabalhadores em educação; do Café da
Praça, para a sua inauguração. Após, face a Licença para Tratar de Interesses
Particulares, no dia de hoje, do Vereador Carlos Garcia, aprovada no dia cinco
de novembro do corrente, o Senhor Presidente declarou empossado na vereança o
Suplente Jorge Ribeiro, após a entrega de seu Diploma e Declaração de Bens e da
declaração de seu Nome Parlamentar, bem como da prestação do compromisso
regimental, informando que Sua Excelência integrará a Comissão de Educação,
Cultura e Esportes. Na ocasião, foi apregoada declaração de impedimento de
exercício da vereança do Suplente João Batista Pirulito. Após, nos termos do §
7º do artigo 12 do Regimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao
Vereador Jorge Ribeiro, que agradeceu a Deus e a todos aqueles que colaboraram
para viabilizar seu ingresso neste Legislativo, discorrendo sobre sua atuação
política e seu objetivo de realizar um trabalho positivo em benefício da
população porto-alegrense. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a
palavra, em TRIBUNA POPULAR, aos Senhores José Brizolla e Luiz Waldove que, em
nome do Conselho do Orçamento Participativo, discorreram sobre o trabalho
realizado por esse Conselho, analisando questões referentes ao Projeto de Lei
Complementar do Executivo nº 07/97 e posicionando-se favoráveis aos índices de
reajuste do Imposto Predial e Territorial Urbano - IPTU propostos. Na
oportunidade, o Senhor Presidente registrou a presença do Senhor Assis
Olegário, Coordenador das Relações com a Comunidade da Prefeitura
Municipal e Coordenador do Orçamento
Participativo, e o Vereador Antonio Hohlfeldt, através de Questão de
Ordem, registrou a presença do Senhor Cézar Augusto Pureza, Presidente do
Sindicato dos Municipários de Porto Alegre - SIMPA. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o
Vereador Gerson Almeida reportou-se ao assunto abordado em Tribuna Popular,
questionando os motivos pelos quais foi solicitada a aplicação do artigo 81 no
referente ao Projeto de Lei Complementar do Executivo nº 07/97 e salientando a
importância do controle e da participação da comunidade no debate das propostas
votadas por este Legislativo. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou o
recebimento, do Senhor Luiz Waldove, das publicações "Desdobramentos do
Orçamento de Porto Alegre" e "O Ciclo do Orçamento
Participativo". Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador João Dib teceu
considerações acerca dos pronunciamentos efetuados na Casa pelos Senhores José
Brizolla e Luiz Waldove, contestando dados por eles apresentados, em especial
no referente aos índices de reajuste do IPTU propostos pelo Projeto de Lei
Complementar do Executivo nº 07/97. O Vereador Isaac Ainhorn esclareceu os
motivos da atitude assumida pelo Líder da Bancada do PDT na Casa, Vereador
Nereu D'Ávila, ao solicitar a aplicação do artigo 81 no referente ao Projeto de
Lei Complementar do Executivo nº 07/97, tecendo considerações acerca deste
Projeto e criticando os índices de reajuste do IPTU propostos. Após, o Senhor
Presidente, face a solicitação do Vereador João Carlos Nedel, prestou
esclarecimentos acerca do texto constante da agenda da presente Sessão,
relativo à Tribuna Popular. Em continuidade, constatada a existência de
"quorum", foi aprovado Requerimento verbal do Vereador Antonio
Hohlfeldt, solicitando alteração na ordem dos trabalhos, após ser encaminhado à
votação pelo Vereador João Dib. Na ocasião, o Senhor Presidente, respondendo a
Questão de Ordem do Vereador Gerson Almeida, prestou informações acerca do
tempo utilizado pelo Vereador João Dib, quando do encaminhamento à votação do
Requerimento acima referido. Também, o Vereador Clovis Ilgenfritz, na
presidência dos trabalhos, informou que teria de se ausentar por alguns
momentos, para participar da abertura dos trabalhos do Encontro Nacional de
Vereadores Portadores de Deficiência Física, registrando que o Vereador Paulo
Brum representaria a Casa durante este evento. Após, o Vereador Gerson Almeida
formulou Requerimento verbal solicitando informações acerca do percentual do
Orçamento representado pelo IPTU nos anos de mil novecentos e oitenta e três a
mil novecentos e oitenta e cinco, tendo o Senhor Presidente solicitado o
encaminhamento por escrito deste Requerimento e tendo o Vereador Luiz Braz
manifestado-se a respeito do mesmo. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador Antonio
Hohlfeldt saudou a presença, no Plenário, de representantes do SIMPA. Teceu
comentários acerca de análise divulgada pelo Professor Tavares Giusti, segundo a qual o Partido dos
Trabalhadores estaria procurando deslegitimar a atuação do Poder Legislativo.
Ainda, discorreu acerca dos trabalhos da Casa, comentando, em especial, debates
referentes à possibilidade de construção de uma pista de eventos no Parque
Marinha do Brasil. Na ocasião, o Senhor Presidente registrou a presença da
Deputada Estadual Maria Augusta Feldmann, do PSB. Em COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o
Vereador Hélio Corbellini manifestou-se acerca dos problemas de segurança
pública observados em Porto Alegre, analisando o Projeto de Resolução nº 33/97,
de sua autoria, hoje apregoado, que cria junto ao Poder Legislativo Municipal o
Conselho de Segurança Comunitária e dá outras providências. A seguir,
constatada a existência de "quorum", foi iniciada a ORDEM DO DIA. Na
ocasião, o Senhor Presidente registrou as presenças dos Estudantes Susana
Patrícia Coelho, Nuno Miguel Simões Lopes e José Antônio Oliveira Dias, do
curso de Administração Autárquica da Universidade Independente de Portugal, e
da Senhora Janete Cruz, representante da Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor, FEBEM. Em prosseguimento, foi apregoada a Emenda nº 14, de autoria do
Vereador Fernando Záchia, aposta ao Projeto de Lei do Executivo nº 36/97 e o
Senhor Presidente registrou ter deferido os seguintes Requerimentos, referentes
a este Projeto: de autoria do Vereador Nereu D'Ávila, solicitando a votação em
destaque da Emenda nº 09 aposta ao Substitutivo nº 01; de autoria do Vereador
Fernando Záchia, solicitando a retirada de tramitação da Emenda nº 13; de
autoria do Vereador Gerson Almeida, solicitando a votação em destaque da expressão "o parágrafo único do
artigo 32" constante do artigo 29 do Substitutivo nº 01 e das Emendas nºs
07, 08, 11, 12, 01 e 02 (em ordem numérica) apostas ao Substitutivo nº 01.
Após, foi deferido pelo Senhor Presidente Requerimento de autoria do Vereador
Gerson Almeida, solicitando a retirada de seus Requerimentos de destaque ao
artigo 26 do Projeto de Lei do Executivo nº 36/97 e à expressão "o
parágrafo único do artigo 32" constante do artigo 29 do Substitutivo nº
01. Em Discussão Geral e Votação foi aprovado o Substitutivo nº 01 ao Projeto
de Lei do Executivo nº 36/97, considerando-se prejudicados o Substitutivo nº
02, o Projeto original e as emendas nºs 02 a 27 apostas ao Projeto original,
por vinte e cinco votos SIM e três votos NÃO, tendo sido submetido à votação
nominal por solicitação da Vereadora Maria do Rosário, após ser discutido pelos
Vereadores Antonio Hohlfeldt, Adeli Sell, Renato Guimarães, Maria do Rosário,
Clênia Maranhão, Reginaldo Pujol, Nereu D'Ávila, Hélio Corbellini, Elói
Guimarães, Antônio Losada, João Motta, Gerson Almeida, Luiz Braz, Décio
Schauren e José Valdir e encaminhado à votação pelos Vereadores Hélio Corbellini
e Nereu D'Ávila, votando Sim os Vereadores Adeli Sell, Anamaria Negroni,
Antonio Hohlfeldt, Antônio Losada, Clênia Maranhão, Cyro Martini, Décio
Schauren, Eliseu Sabino, Fernando Záchia, Gerson Almeida, Guilherme Barbosa,
Hélio Corbellini, João Carlos Nedel, João Dib, João Motta, José Valdir, Juarez
Pinheiro, Lauro Hagemann Luiz Braz, Maria do Rosário, Pedro Américo Leal, Pedro
Ruas, Renato Guimarães, Sônia Santos e Jorge Ribeiro e votando Não os
Vereadores Elói Guimarães, Isaac Ainhorn e Nereu D'Ávila, tendo apresentado
Declaração de Voto os Vereadores Décio Schauren, Antônio Losada, Renato
Guimarães, João Motta e Clovis
Ilgenfritz. Durante a discussão do Projeto de Lei do Executivo nº 36/97, os
Vereadores Anamaria Negroni, José Valdir, Cyro Martini, Guilherme Barbosa,
Pedro Ruas, Juarez Pinheiro e Clovis Ilgenfritz cederam seus tempos para os
Vereadores Antonio Hohlfeldt, Adeli Sell, Renato Guimarães, Maria do Rosário,
Nereu D'Ávila, Gerson Almeida e José Valdir e os Vereadores Jorge Ribeiro e
Tereza Franco cederam seus tempos para o Vereador Hélio Corbellini. Na ocasião
foram registradas as presenças do Suplente Renato Stradolim, da Bancada do
PMDB, do Poeta Jorge Matos, do Senhor João Batista Marçal, Presidente Municipal
do PSB, e do Senhor José Carlos Martins, vice-Presidente Estadual do PSDB e
Presidente da Coordenadoria da Região Metropolitana. Também, o Senhor
Presidente solicitou a colaboração dos presentes para que fosse mantida a ordem
e viabilizada a continuidade dos trabalhos e, face à Questão de Ordem do
Vereador João Dib, destacou a necessidade do Orador na tribuna ater-se ao
Projeto em discussão. Ainda, os trabalhos estiveram suspensos, nos termos
regimentais, das onze horas e vinte e dois minutos às onze horas e vinte e
cinco minutos e das doze horas e quarenta e quatro minutos às doze horas e
quarenta e cinco minutos e foi aprovada a prorrogação dos trabalhos da presente
Sessão, nos termos regimentais. Às treze horas e quatorze minutos, constatada a
inexistência de "quorum", o Senhor Presidente declarou encerrados os
trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária da próxima
segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos
Vereadores Clovis Ilgenfritz, Isaac Ainhorn, Reginaldo Pujol, Paulo Brum e Guilherme
Barbosa e secretariados pelos Vereadores Paulo Brum, Guilherme Barbosa e Adeli
Sell, este como Secretário "ad hoc". Do que eu, Paulo Brum, 1º
Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em
avulsos e aprovada, será assinada por mim e pelo Senhor Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Temos a satisfação de contar
com a presença do Suplente do PSB, Jorge Ribeiro que assume a vereança em
substituição ao Ver. Carlos Garcia que está em representação desta Casa, na
cidade de Bagé, na Mostra Bageense de Atividades Físicas.
Convidamos a todos os
presentes a assistirem, de pé, o juramento de posse do Sr. Jorge Ribeiro.
O SR. JORGE RIBEIRO: "Prometo cumprir a Lei Orgânica do Município de
Porto Alegre, defender a autonomia municipal e exercer com honra, lealdade e
dedicação o mandato que me foi conferido pelo povo." (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE: Está empossado o Ver. Jorge Ribeiro. Solicito a V.Exa. que proceda a entrega à Mesa do seu diploma e respectiva
declaração de bens, bem como a
declaração de seu nome parlamentar.
(É procedida a entrega dos documentos à Mesa.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jorge Ribeiro está com a palavra, nos termos do § 7º do Art. 12
do Regimento da CMPA.
O SR. JORGE RIBEIRO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. eu quero agradecer a Deus por
este momento tão importante que,
certamente, marcará para sempre a minha vida. Quero agradecer aos meus
colegas de trabalho que estão aqui comigo, ao meu patrão que está aqui, a minha esposa, aos meus filhos, a sociedade
da Igreja que também está aqui, o meu muito obrigado por aqui
comparecerem e por me dar essa
satisfação tão importante. Sou uma
pessoa simples, sou motorista de ônibus, trabalho na Viação Teresópolis
desde 1974, tenho algumas participações
no Movimento Popular e a minha intenção, sem dúvida nenhuma, é poder colaborar com aquilo que for possível
com todos os meus companheiros. Esta Casa vem cumprindo com a sua ética,
com a sua respeitabilidade e é um orgulho para o Estado do Rio Grande do
Sul. Estou um pouco nervoso, por esse
motivo não vou me alongar mais. Por enquanto, muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Seja bem-vindo, Ver. Jorge
Ribeiro. V. Exa. tem, dos 32 Vereadores, toda a solidariedade, sinta-se em
casa, pode deixar o sistema nervoso de lado.
Nós temos certeza de que tem um grande
trabalho a desempenhar conosco.
Nos termos do Art. 100 da
LOM, passamos à
TRIBUNA POPULAR
Temos a satisfação de
receber representantes do Conselho do Orçamento Participativo. O assunto é a
proposta de alteração do projeto que tramita neste Legislativo a respeito do
IPTU, o PLCE nº 07/97.
Vão dividir o tempo de 10
minutos os conselheiros José Brizolla e Luiz Waldove.
Tem a palavra o Sr. José
Brizolla.
O SR. JOSÉ BRIZOLLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. Em especial quero
cumprimentar o companheiro Jorge Ribeiro, da nossa região da Glória, que assume
hoje pela primeira vez, bem como outros companheiros do Conselho Participativo
e demais companheiros que estão aqui neste Plenário.
Sinto-me bem à vontade aqui
nesta Casa, porque sou um representante do movimento popular, representando a minha região no movimento
comunitário há mais de 18 anos. Sinto-me também à vontade porque fui eleito
para representar a minha região no Conselho do Orçamento Participativo, uma
função que considero tão grandiosa é essa de discutir os recursos, os
investimentos, receitas e despesas para toda a Porto Alegre. Um detalhe: fui
eleito sem nenhuma prova.
Quero iniciar colocando que o movimento que congrega o Conselho
do Orçamento Participativo é um movimento autônomo, o que não é a mesma coisa
que o governo. O Conselho do Orçamento
Participativo é uma coisa e o governo é outra coisa. Na maioria das vezes
entramos em choque com o governo na disputa por aquilo que consideramos
prioritário. E muitas vezes o próprio governo tem que disputar, nas nossas
reuniões, alguma coisa que ele acha interessante para a Cidade. E o consenso só
existe quando acabam os recursos. Devido à grande demanda de problemas em Porto
Alegre, os recursos são escassos.
E agora temos uma outra preocupação com a aprovação da Lei Kandir
e da FEF, que estão tirando recursos do Município. Além disso, o próprio Estado
não repassa os direitos que nós temos com relação à educação. Isso nos deixa
preocupados porque temos prevista para 1998 uma série de grandes obras,
pequenas obras e pequenas-grandes obras para Porto Alegre. Pequena-grande obra,
por exemplo, é asfaltar uma ruazinha numa vila, pois para aquela vila é uma
grande obra, embora seja pequena obra para o Município.
Então, ciente dessa realidade, o Conselho do Orçamento
Participativo, que não discute apenas os investimentos mas a receita do
Município, está discutindo uma lei que está nesta Casa e que terá uma
significativa importância, porque vai aumentar os recursos para investimento na
Cidade. Na verdade, essa lei que está sendo revisada, da planta de valores dos
contribuintes para 1998, é uma correção que vem ocorrendo ao longo dos anos nos
imóveis de Porto Alegre.
Muitos imóveis foram
valorizados por grandes obras e estão pagando a mesma coisa do que os imóveis
que não têm valorização nenhuma. Essa correção é justa porque vai trazer
recursos para possibilitar outras grandes obras em Porto Alegre.
Hoje, existem muitas pessoas
contra essa correção. No entanto, as pessoas não vêem que a CEEE teve grandes
aumentos, a CRT teve aumento de quase 200%. Hoje é fácil comprar um telefone,
mas difícil de mantê-lo. E isso também não foi colocado em discussão. Temos,
também, a questão do trânsito: inventaram taxas e mais taxas, qualquer carro
velho está pagando taxas.
Esse aumento do IPTU, no máximo 9% para imóveis
residenciais, nós, do Conselho de
Orçamento - que temos nossas reuniões mensais, e, semanais, nas comunidades,
que somos representantes de quase três mil delegados que representam suas comunidades, e que 60% da
população que pagam R$ 50,00 atualmente terão um aumento de R$ 4,50 - achamos
que não é um grande aumento. Essa população, com as quais discutimos
diariamente, está achando que não é um
grande aumento, tendo em vista as grandes melhorias que estão acontecendo em
Porto Alegre.
Existe um grupo, 20% dos contribuintes de Porto Alegre, que vai
pagar um pouco mais, porque há muitos imóveis que estão com os grandes especuladores.
E estes têm os Vereadores que os representam e que são Vereadores coerentes.
Esta Casa sempre votou questões visando àquilo que é melhor para
a população de Porto Alegre. Desde o IPTU até os programas de investimentos, ao
longo dos anos, os projetos foram votados quase na sua íntegra, porque sabiam
que era prioridade para Porto Alegre. Por isso gostaríamos que houvesse a
sensibilidade nesta questão do aumento que, sem dúvida, vai contribuir para
grandes obras em Porto Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa pede aos Senhores e Senhoras que nos honram com suas presenças,
que, conforme o Regimento, deixem de
fazer manifestações de aplauso ou de repúdio. Vamos pedir ao próximo orador,
Sr. Waldove, que use o tempo da Tribuna Popular com o prejuízo de 1 minuto,
pois o total deve ser 10min, e nós o excedemos.
O Sr. Luiz Waldove está com
a palavra.
O SR. LUIZ WALDOVE: Bom dia aos Srs. Vereadores, ao companheiro e amigo Ver. Clovis
Ilgenfritz e aos cidadãos assistentes
desta Sessão.
Fui designado pelo Conselho
do Orçamento Participativo, no qual eu represento a Temática de Desenvolvimento
Econômico e Tributação, no sentido de trazer aos Vereadores argumentos em apoio
ao Projeto encaminhado pelo Executivo.
Porto Alegre é uma das
únicas cidades do mundo que tem um Plano de Desenvolvimento Econômico e, tendo
em vista, que nesse plano há uma
necessidade de maiores investimentos de obras e serviços na Cidade, é
necessário ser feita uma reformulação do IPTU. Ela visa a um maior
desenvolvimento econômico para a Cidade.
Os municípios brasileiros
têm freqüentemente sofrido com a política do Governo Federal e Estadual. Por
exemplo: falta de regulamentação do salário-educação, municipalização de
serviços cujos recursos não são repassados aos municípios - saúde, educação e
segurança - a Lei Kandir, a mudança do FUNDOPEN, recursos do FAT que não são
repassados, a extinção do IVVC.
Com esse tipo de políticas
do Governo Federal e Estadual, a Prefeitura perde, em média, por ano, 3l.3 milhões.
Os imóveis em Porto Alegre, hoje, estão
abaixo do preço. Desde 1992, o IPTU vem sendo corrigido somente pela
inflação do período, há a necessidade de uma atualização. Essa atualização do
valor atingirá os contribuintes em, no máximo, 9% dos imóveis residenciais.
Outra estatística
importante, 60% desses imóveis, ou seja, 230 mil imóveis vão pagar numa faixa de R$ 3,60 a R$ 4,50, no pagamento à vista; e
no pagamento parcelado, um aumento de R$ 0,45. O IPTU de Porto Alegre é um dos
menores do Brasil. Fazendo uma comparação com Belo Horizonte, por exemplo, a
média do IPTU é R$ 344,13; o de São Paulo R$340,03; do Rio de Janeiro R$
322,21; Porto Alegre está com R$ 206,02. Esses são dados de 1997. Uma
comparação, por exemplo, com o IPVA: um automóvel Uno Mille, que hoje paga R$
81, 56, no caso de contribuintes do IPTU, ele é isento; um Corsa 1994, cujo
IPVA é hoje R$ 329,38, no caso do IPTU
é R$ 47,68.
Para finalizar, eu gostaria
de salientar que não é justo que grandes proprietários e especuladores imobiliários,
que têm imóveis favorecidos e valorizados pela infra-estrutura construída com o
dinheiro público, exerçam o seu poder no sentido de não apoiar essa Lei, para
impedir que haja uma tributação justa em relação aos que usufruem da Cidade.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Temos a satisfação de registrar a presença do Sr. Assis Olegário, que é
Coordenador das Relações com a
Comunidade da Prefeitura Municipal, e é um dos coordenadores, por parte da
Prefeitura, do Orçamento Participativo. Também estão presentes vários delegados
e delegadas. Sejam bem-vindos a nossa Câmara!
O SR. ANTONIO HOHLFELDT (Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu queria
registrar, com satisfação, a presença do Presidente do Sindicato dos
Municipários, companheiro Cézar Augusto Pureza.
O SR. PRESIDENTE: Seja bem-vindo a esta Casa. Aliás, tem sido freqüente a sua presença;
sempre que precisar, estaremos à disposição.
O Ver. Gerson Almeida está
com a palavra em Comunicação de Líder.
O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores; Delegados do
Orçamento Participativo, companheiro Brizolla, companheiro Waldove; demais
companheiras e companheiros que acompanham esta Sessão.
Eu quero, em nome da Bancada
do Partido dos Trabalhadores, fazer um registro da importância de que Delegados
do Orçamento Participativo, se utilizando da Tribuna Popular discutam e falem
sobre um dos projetos em curso, mas
especialmente o Projeto pela revisão da Planta de Valores Imobiliários de Porto
Alegre que está em debate nesta Casa. Está sob a égide do art. 81 que, para
quem não conhece o Regimento da Casa, obriga que projetos venham como estão,
tenham ou não passado por alguma comissão,
tenham ou não sido discutido o suficiente.
Esse Projeto já foi objeto
de uma tentativa de urgência, que a maioria dos Vereadores da Casa derrotou e
agora deve entrar na Pauta segunda-feira que vem, por força desse art. 81. Eu
digo isso a título de informação, apenas porque são instrumentos regimentais e
não há o que discutir sobre eles. No entanto, o que nós, da Bancada do Partido
dos Trabalhadores, temos procurado fazer aqui nesta Casa, é que, dada a
complexidade e importância de um projeto como esse, da organização da Cidade e
que vai possibilitar que continuemos tendo uma capacidade, pelo menos, mínima,
de prestar serviços e investimentos à
Cidade de Porto Alegre, precisamos da atenção de cada um dos Vereadores e
Vereadoras, acima daquelas questões que dividem oposição ou situação. Neste
caso, como na maior parte dos projetos importantes, não está colocada a
diferença entre ser oposição ou situação ao Governo que ora está à frente,
governando a Cidade, mas se trata de discutir se a nossa postura vai ser de
oposição ao Governo que vai transitar de oposição à Cidade ou não.
A nossa postura de oposição
ao Governo não vai transitar para um passo muito maior, e certamente mais
equivocado, que é ser oposição aos interesses da Cidade. É importante que os
delegados do Orçamento, uma instituição pública não-estatal, autônoma, como
disseram, talvez a maior parte das vezes, ao exercer a soberania popular, crie
um controle social sobre todas as secretarias e sobre o Estado que nunca antes
houve e que é muito importante, porque basta caminhar na Cidade para ver o bom
resultado. A Cidade está muito melhor e é bom que a população organizada de
forma autônoma faça valer as suas vontades. Para nós isso é um orgulho, mesmo
quando nos colocamos em posições, por grandes projetos ou em pequenas questões,
em contraposição à parte ou à grande parte de segmentos populares.
Agora, é neste debate
franco, claro e respeitoso que
vamos construir uma cidade melhor. Não
precisamos ter unanimidade e consenso sempre. O importante é garantir que esse
espaço conquistado não retroceda, mas aumente. A questão do IPTU foi muito
bem-abordado; e não se trata de aumento abusivo para os setores pobres da
Cidade. Trata-se de imposto sobre propriedade e se trata de devolver ao
conjunto da Cidade uma pequena parcela daquele aumento patrimonial, devolver a
justa valorização que as propriedades tiveram por esforço de toda a Cidade,
porque os recursos que melhoram uma rua ou um bairro não são dos moradores daquele bairro, apenas. São recursos
conjuntos da cidadania, do conjunto da Cidade. E se se valorizou imóveis,
propriedades, é correto que parte desse patrimônio valorizado seja devolvido
para a Cidade para manter e ampliar os serviços para regiões e locais que ainda
não tem completa infra-estrutura urbana e completo acesso aos serviços
públicos. Essa é a lógica política e filosófica desse Projeto e , portanto, o que estamos fazendo não é aumentar
imposto, é corrigir, em pequena parte, o valor venal dos imóveis,
aproximando-os minimamente ao valor de mercado.
Nós queremos debater esse
Projeto desta maneira, nós queremos sofrer Emendas ao Projeto e melhorá-lo, mas
não queremos que ele seja visto apenas como uma posição do Governo e que
pensem: Se não é dos Partidos da Frente Popular, vamos ser contra. Não queremos
que a Oposição transite, da oposição ao Governo, para a oposição à Cidade. Não
aumentar, não corrigir IPTU significa
retirar quais do orçamento proposto para o ano que vem? É essa a pergunta que também precisa ser
feita para o conjunto da Cidade, e não apenas para nós. Esse é o apelo que
fazemos quando, segunda-feira, estaremos, por força do artigo 81, votando o Projeto do IPTU. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Recebemos, das mãos do Sr. Waldove, duas publicações: “Desdobramentos
do Orçamento de Porto Alegre” e o “Ciclo do Orçamento Participativo”. Os Srs.
Vereadores que os desejarem, poderemos providenciar para que recebam. É interessante e bastante elucidativo para quem
está discutindo o tema.
O Ver. João Dib está com a
palavra para uma Comunicação de Líder.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu não pretenderia usar a palavra
para discutir a Tribuna Popular, mas em homenagem ao nosso novo Vereador, em
respeito aos que tiveram o esforço de usar esta tribuna para divulgar algumas
informações que não são corretas e porque a Liderança do PT endossou aquilo que
aqui foi dito, é preciso que eu use a Tribuna.
Em 1992, eu e o Ver. Isaac
Ainhorn entrávamos na Justiça contra o
então Vice-Prefeito Raul Pont, exatamente por uma afirmação tola e
incompetente que ele havia feito e que ouvi repetida aqui nesta Tribuna, de que
os Vereadores eram contrários ao aumento do IPTU porque queriam proteger
aqueles que têm um grande número de propriedades. Esquecendo que quem tem grande número de propriedades aluga, e
quem paga é o inquilino. O Prefeito Raul
Jorge Anglada Pont se escondeu na saia larga da imunidade e disse que não
poderia ser processado, e tivemos que rir pela fraqueza da informação e pela
fraqueza de quem a colocava. Disse aqui que não houve acréscimo desde 1992. Ele
desconhece a história: houve 33% acima de inflação, aumento trocado por um voto
para fazer o redutor de velocidade na
Restinga, o que foi feito muito tempo depois. Trinta e três por cento acima da
inflação está sendo pago este ano no Imposto Predial.
Essa história de valorização
porque toda a coletividade pagou. Por que penalizar aqueles que pagaram? A
Prefeitura não fabrica dinheiro: arranca nos impostos. Se toda a coletividade pagou, por que prejudicar,
penalizar aqueles que pagaram? A Prefeitura tem que entender que é isso mesmo,
a coletividade, que hoje tem, paga para
o que não tem, mas não tem que cobrar mais dessa coletividade que já pagou para
o que não tem.
O que é o IPVA? Por que a
Prefeitura está reclamando do Corsa, do Gol; por que ela não devolve o
dinheiro? Ela recebe 50% no mesmo
momento em que o cidadão paga IPVA. A Prefeitura arrecadou de IPTU, até 30 de
setembro, 54 milhões de reais, e arrecadou de IPVA 41 milhões de reais. Quem
sabe ela devolve esse dinheiro que está cobrando a mais? Por que não investe em
Saúde. A Prefeitura tem que aplicar 13% e só está aplicando 10% do Orçamento em
Saúde. Quem sabe a comissão do
Orçamento Participativo solicita à Prefeitura que cumpra a Lei Orgânica e
coloque 13% na Saúde como deve ser feito, e não colocar o dinheiro no sistema
financeiro para não atender os servidores do Município que poderiam, por exemplo, no dia do
Servidor Público receber três dias antes o salário, mas o dinheiro está
depositado nos bancos da Cidade, recebendo um e meio ou dois por cento de
juros. Agora, o Secretário está quase doente, porque no momento em que aumenta
a retribuição para quem faz investimento financeiro, ele terá que retirar o
dinheiro para pagar o décimo terceiro salário.
A Prefeitura tem muito
dinheiro. Em 1996, houve um superávit de seis milhões de reais e, em 1995, de
dez milhões de reais. Não é falta de dinheiro, é falta de competência e seriedade. O sistema financeiro continua
ajudando a Prefeitura e prejudicando os servidores. Na época da Páscoa, foi
pedido que se pagasse aos servidores, antes do fim do mês, mas o dinheiro foi
depositado no dia vinte e cinco e entregue para os servidores no dia trinta e
um, porque o sistema financeiro é muito bom para aqueles que criticam os
banqueiros. Saúde e paz! Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Isaac Ainhorn está com a palavra em Comunicação de Líder.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, saúdo os
companheiros representantes delegados do Orçamento Participativo que comparecem
a esta Casa, aliás, gostaríamos que esses companheiros, não só nesta
oportunidade, por ocasião da votação do aumento do IPTU, se fizessem presentes
nesta Casa, mas de forma mais amiúde
para que possamos harmonizar os
princípios da democracia representativa, com os princípios da democracia
participativa. Sairá ganhando a Cidade de Porto Alegre e o Brasil, pelo exemplo
que poderíamos dar nesta Cidade.
Manifesto a correção da
posição e da proposta do Líder da Bancada do PDT Nereu D'Ávila que requereu a aplicação do art. 81 da Lei Orgânica
da Cidade de Porto Alegre, para que o Projeto do Sr. Prefeito Municipal que
aumenta o IPTU, em níveis acima da inflação, seja votado imediatamente, até
porque, neste momento, nós nos encontramos a 30 dias do final do ano legislativo,
na Cidade de Porto alegre.
E nos surpreende o Líder do PT, que invoca, pela primeira vez, que
as Comissões Técnicas devem se manifestar sobre o assunto e que o PDT, através da sua Liderança, teria atropelado o
processo. Nos causa surpresa, porque, normalmente, quem se vale dos princípios
do Artigo 81 não são as minorias da Casa, mas a Bancada majoritária do PT, que,
hoje, dispõe de 13 Vereadores.
Nós não estamos preocupados, apenas, com o aumento real do IPTU
acima da inflação, nesse período, agora, do ano de 1998, mas na aprovação da
Planta de Valores, em valores consideravelmente superiores à inflação. A Câmara
de Vereadores, se aprovasse este
Projeto, não poderia falar em aumento do IPTU até o ano de 2001, até porque a Planta de Valores já deixaria
gorduras necessárias para que o Sr. Prefeito Municipal, todos os anos,
aumentasse o IPTU acima da inflação. E vou explicar por quê: existe uma Planta
de Valores e o Sr. Arno Augustin, tão
competente e qualificado no aumento dos impostos, além de um tecnocrata de
direita é um tecnocrata de esquerda. Infelizmente, esta é a realidade na busca
de aumento de tributos.
Vejam os Senhores e as Senhoras, meus companheiros, os aumentos
concedidos na Planta são de 9% para os residenciais, para o ano de 1998, é de
14% para os comerciais. Portanto, os imóveis comerciais vão aumentar, em Porto
Alegre, 14% mais 8% da inflação, 22%. E
os residenciais 9% mais 8% são 17%. Mas, enquanto isso, na Nilo Peçanha, o
aumento da Planta de Valores foi de 43%, na proposta do governo, o que quer
dizer que já fica com uma gordurinha para os próximos anos. Na Carvalho de
Monteiro, 57,71%. Mas essas zonas são
de bairros da alta classe média. Mas, vamos para o Bairro Espírito Santo, Ver.
João Dib, na Rua Murá, o aumento da
Planta de Valores é de 173; na Jacundá, 208%; na Serraria, 208%; na rua
Francisco Galecki, 501%; no bairro que se chamaria Iguatemi e, por uma luz
divina, foi revogado, porque estariam dizendo que o imposto teria sido
aumentado, porque botaram um nome de
bairro muito bonito. Pois lá, na rua Henrique Scliar, o aumento é de
119%; na Alois Kades, no antigo bairro Iguatemi, 181%; na Cipó, onde os
problemas de trânsito têm causado morticídio, 181%; na Atanásio Belmonte, 122%,
não se falando nos valores em média de 120% que aumenta a planta dos materiais
de construção, consoante a proposta vinda aqui para esta Casa.
Portanto, com todo o
respeito aos companheiros delegados do Orçamento Participativo, na soberania
desta Casa, eu entendo que, neste momento, a posição sustentada, de trazer à
discussão a votação na segunda-feira deste projeto, foi a mais correta e
bem-encaminhada. De outro lado, tenho a convicção de que, neste momento, o
Legislativo Municipal não concederá aumentos acima da inflação, porque hoje
toda a população vem sendo penalizada por uma política do governo federal que
mantém os salários de seus servidores completamente achatados. Isso seria uma
penalização violenta aos inquilinos, àqueles que pagam IPTU na cidade de Porto
Alegre. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. JOÃO NEDEL (Esclarecimento): Eu
gostaria que o Sr. Presidente me esclarecesse se os oradores que ocuparam a
Tribuna Popular estão entregando uma proposta de alteração ao Projeto que
tramita neste Legislativo, referente ao IPTU ou se o espelho da Sessão de hoje
se equivocou, porque assim prevê o espelho.
O SR. PRESIDENTE: Ver. João Nedel, a proposta de
alteração, conforme escrito no item Tribuna
Popular, é a proposta que o Governo mandou e vai à votação na
segunda-feira. Não há alteração do projeto do Governo. O espelho poderia estar
mal-redigido, mas não a ponto de nos enganar. O projeto do IPTU tem uma
permanência , cada ano tem as suas modificações.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT (Requerimento): Sr. Presidente,
preliminarmente, quero deixar a minha inscrição de Liderança posteriormente aos
encaminhamentos.
Proponho à Mesa, dentro de
conversações que desenvolvemos com
todas as Lideranças, que se altere a ordem dos trabalhos nesta manhã, que se passe direto para a
Ordem do Dia deixando a Pauta para um momento posterior e dentro da Ordem do
Dia que se puxe diretamente para a votação inicial o projeto relativo aos
Conselhos Tutelares, tema que está centralizando a nossa atenção e que foi
interrompido na Sessão passada. Se posteriormente chegarmos aos outros
projetos, vamos voltar a conversar com as outras Lideranças.
O SR. PRESIDENTE: Peço licença a este Plenário
para me retirar por alguns minutos, pois temos que abrir o Encontro
Nacional de Vereadores Portadores de
Deficiência Física, o que muito nos orgulha, e o Vereador que nos representa,
Paulo Brum está, pela terceira
vez, solicitando que a Presidência
compareça nessa cerimônia de abertura.
O SR. GERSON ALMEIDA (Requerimento): Já que talvez esse Projeto seja votado na
segunda-feira, requeiro, se for possível, a nossa assessoria que pesquise qual
era o percentual do Orçamento que representava o IPTU nos anos de 1983, 84 e
85, período em que era Prefeito o nobre Vereador João Dib.
O SR. PRESIDENTE: V.Exa., por favor, faça o encaminhamento por escrito.
O SR. LUIZ BRAZ (Questão de Ordem): Sr. Presidente, esse Requerimento do Ver.
Gerson Almeida mais se assemelha a um pedido de informações, que deveria ser
enviado para o Executivo através de um Requerimento escrito, e não da forma
como foi feito. Até porque a Comissão de Finanças e Orçamento trata da
fiscalização de assuntos atuais.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa tem condições de informar, não precisa solicitar a outro órgão.
Está registrado na biblioteca da Casa e
V. Exa. há de concordar que as duas formas são interessantes.
Encerramos o período da Tribuna Popular e agradecemos
imensamente a presença dos representantes que hoje vieram a esta tribuna, Srs.
José Brizolla e Luiz Waldove que são do
Conselho do Orçamento Participativo. Agradeço, também, a presença de Assis Olegário, Coordenador das Relações com a
Comunidade.
O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Com a palavra o Ver. João Dib, para
encaminhar o Requerimento do Ver. Antonio Hohlfeldt de alteração nas ordem dos
trabalho.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, se eu estivesse no Plenário, eu faria
uso da palavra de forma diferente, mas o que me assusta, na realidade, é a
incompetência para fazer um requerimento para saber quanto foi arrecadado de
IPTU e quanto representou
percentualmente.
O SR. GERSON ALMEIDA (Questão de Ordem): Eu gostaria de saber em que
momento está falando o Vereador João Dib?
O SR. PRESIDENTE: A Mesa esclarece a V.Exa. que o Ver. João Dib está usando a tribuna,
para encaminhar um Requerimento de alteração dos trabalhos da Sessão.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, continua me assustando mais ainda a
incompetência. A incompetência é algo que não devia estar neste Plenário, mas
está na Liderança do PT que não me deixa expor o meu pensamento para que eu
possa dizer por que sou contrário à modificação da Sessão de hoje,
passando a Ordem do Dia para o primeiro
lugar. Pergunta-se quanto na Administração João Dib se arrecadou de IPTU,
esquecendo-se de que tem que ver qual é a situação do IPTU hoje em relação ao
Orçamento atual. Mas, a incompetência, que não faz os comparativos, esquece-se
de que na Pauta, no dia de hoje - sou um homem religioso em matéria de
Regimento, e aí, quero a coerência, a seriedade e a honra - há um projeto de suplementação
para o DMLU.
Eu não quero que reúnam esta
Câmara na sexta-feira à noite e o PT não compareça para que as oposições
garantam a suplementação. Eu não quero ver o Diretor Campani dando voltas em
torno dos Vereadores, porque a incompetência da Liderança do PT está impedindo
que corra mais uma Pauta. Não vai haver Pauta hoje. A Liderança deveria acertar
com os Vereadores: "Vamos deixar correr a Pauta e não vamos usar o
tempo." Mas a Liderança prefere dizer que o Ver. João Dib, quando Prefeito,
arrecadava 20% do Orçamento em IPTU. Mas
esquece que não tinha o IPVA, esquece que não tinha o ITBI, esquece que
não tinha a taxa de pluvial, esquece que a arrecadação do ICMS não era 13,5%
sobre 25, que não é igual a 12,5 sobre 20.
Então, é preciso ter competência,
e se eu fosse Líder do PT eu conversaria com os Vereadores para que a Pauta
fosse cumprida e os 4 milhões de suplementação por excesso de arrecadação, ou
melhor, por parte do excesso de arrecadação pudesse ser votado com
tranqüilidade. Agora, honra é honra, dignidade é dignidade, seriedade é
seriedade, coerência é coerência, não vai haver pedido de urgência. Tenho
convicção disso, porque o Líder do PT me assegura, com o seu ar inteligente que
eu conheço, que não vai pedir urgência. Eu vou votar contra. Saúde e paz. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Colocamos em votação o Requerimento que altera a ordem dos trabalhos
desta Sessão, de autoria do Ver. Antonio Hohlfeldt.
Em votação. (Pausa.) Os Srs.
Vereadores que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO, com o voto contra do Ver. João Dib.
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra para uma Comunicação de
Líder.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. A utilização deste
tempo é, em primeiro lugar, para saudar os companheiros do SIMPA que se
encontram no plenário, e para dizer da nossa preocupação, na medida em que,
cada vez mais, se verifica uma tentativa de pressão, de manipulação junto à
opinião pública por parte da administração do Município.
Vejo com apreensão publicações em jornais, nos últimos dias,
tentando interpretar encaminhamentos que esta Casa dá a uma série de temas, de
maneira parcial, sob uma determinada ótica, e, às vezes, de maneira a jogar
esta Casa contra a opinião pública.
Quero relembrar aqui a análise do Prof. Tavares, que participa de
um debate na próxima semana nesta Cidade sobre partidos políticos, em que ele
evidencia exatamente a questão do principismo por parte do Partido dos
Trabalhadores em discutir, em deslegitimar a existência do Legislativo. Isso me
preocupa, porque isso tem-se repetido, permanentemente, em vários
comportamentos.
De qualquer maneira, quero registrar, aqui, que independente
desta que é uma disputa de fundo que os
diferentes partidos da Casa possuem, temos conseguido, apesar de tudo,
encaminhar com eficiência, com respeito, com aquela necessária habilidade das
diferentes bancadas nas negociações que se fazem em torno de projetos,
resultados que me parecem que são positivos para a Cidade de Porto Alegre.
Quero lembrar que em torno
da Câmara Municipal, hoje, se encontram diferentes temas importantes como: o
Código de Incêndio, o IPTU, a questão dos Conselhos Tutelares, o problema da
Pista de Eventos, -e este a Prefeitura tenta de qualquer maneira transformar,
apenas, um caso de racismo, quando na verdade é um caso de ilegalidade por
parte do próprio Município - e o caso
do Bairro Três Figueiras, na tentativa de implantação de projeto megalomaníaco
e absolutamente prejudicial ao ambiente do entorno.
Gostaria de chamar a atenção
dos Senhores Vereadores, porque nos próximos dias a Cidade terá a oportunidade
de assistir, inclusive, a um debate - e que me parece extremamente interessante
- que é discussão sobre o RIMA em torno da construção da Pista de Eventos. O que me preocupa é o tom
do Edital e o modo pelo qual as autoridades municipais vêm encaminhando a
questão. Vão cumprir o aspecto formal e legal - vão fazer a audiência pública -
e vão ter de dar a público o conteúdo do RIMA , que absolutamente é contrário, porque levanta uma série de
óbices sérios que qualquer
administrador responsável assumiria
como óbice real à implantação da Pista de Eventos naquele local. Mas todo o
clima que se sente é que a Prefeitura
vai ouvir e depois vai fazer "ouvidos de mercador", ou seja, vai
implantar na "marra" a Pista de Eventos.
Eu quero deixar registrado,
aqui, desde logo, que ou através da Bancada, ou através do conjunto de
Bancadas, ou, se for preciso, de modo individual como tantas vezes fiz em
outros momentos da administração dessa Cidade, este Vereador, se este
Vereador precisar recuperar o direito da população, em nível do Judiciário, assim o fará. Quero deixar claro que a
colocação da pista junto à Câmara, anos atrás,
junto aos prédios do Poder Judiciário Federal, já teve o embargo do próprio Judiciário, que se
encontra até hoje suspenso e que, "strictu sensu" deveria impedir
qualquer outro encaminhamento. Quero deixar isso registrado e fazer
um alerta ao Partido do Governo: vamos chegar à mesma situação ante a
insistência da pista de eventos no Parque Marinha do Brasil; será embargado na
Justiça, agrade ou não à Prefeitura. Então vai ficar evidente aquilo que
alguns de nós temos levantado: na
verdade, a Prefeitura não quer fazer a
pista; quer manter a opinião pública subjugada, a cada ano eleitoral, a um debate que interessa a eles, mas não à
Cidade de Porto Alegre.
(Não revisto pelo orador.)
O PRESIDENTE: A Mesa registra, com
satisfação, a presença da Deputada
Estadual Maria Augusta Feldmann, do
Partido Socialista Brasileiro.
Para uma Comunicação de
Líder tem a palavra o Ver. Hélio Corbellini, pelo
PSB.
O SR. HÉLIO CORBELLINI: Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Vereadores, Senhores Conselheiros, Deputada Maria
Augusta Feldmann.
Ontem, o Presidente desta
Casa chamou os Vereadores Pedro Américo Leal, Cyro Martini, Juarez Pinheiro e
este que vos fala para discutir as questões de segurança, não só da Casa, como
também da nossa sociedade. Hoje, ocupo esta tribuna para mais uma vez falar
sobre este tema, não daquilo que todos sabemos, que são os reclames e
reivindicações urgentes das comunidades em relação ao baixo nível de segurança
dos cidadãos, mas sim para novamente colocar a esta Casa o desafio de
discutirmos conceitos de segurança. No início deste ano apresentamos um projeto
a esta Casa que instituía o Conselho Comunitário de Segurança, para preencher
uma lacuna do art. 156 da lei Orgânica que diz que o Executivo Municipal deverá
remeter a esta Casa um projeto de lei instituindo o Conselho de Segurança, e
que até agora não veio. Dizíamos à época que a questão de segurança, em
primeiro lugar, não pode ser ideologizada, companheiros Conselheiros Tutelares,
ela está acima dos partidos, acima das
nossas vontades e paixões partidárias,
porque é uma questão de toda a sociedade, e esta Casa não pode ficar afastada
desse debate.
Propúnhamos, naquela época,
que esta Casa liderasse um grande movimento nesta Cidade para discutir estas
questões, porque o compromisso de segurança não é só da esfera estatal, é da
esfera da sociedade, das comunidades, e para isso as comunidades devem também
participar das decisões sobre a segurança, começando a mudar os conceitos. Um
deles, o conceito patrimonial da segurança, está ultrapassado e é de origem da
Lei de Segurança Nacional. O conceito de segurança que tem que viger é o
conceito da vida do cidadão. E se nós partirmos desse conceito base e do
conceito real da leitura da Constituição, que diz que segurança é uma questão
de Estado e não do Estado, vamos ver que todos temos uma obrigação em relação a
discutir segurança. Botar bandido na cadeia é função da polícia. Mas só botar
bandido na cadeia não resolve a questão, porque a questão não é de bandido e
mocinho. A questão, além de ser estrutural, é conceitual. E nisso também vai a
necessidade de começarmos a discutir a municipalização das polícias e o papel
que tem o Município na questão da segurança.
É tão sério isso, Srs.
Conselheiros Tutelares, que os Conselhos Tutelares têm também uma função de
segurança, porque tratam de zelar e proteger a criança e o adolescente, não
apenas de chamar a Brigada e recolhê-los, mas discutir com eles os mecanismos
para que eles não fiquem nas ruas, bem como protegê-los dos bandidos.
Todo o cidadão tem uma
função de segurança e é condição da cidadania também participar das decisões do
controle da segurança e de todas as suas esferas. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Nós registramos, com satisfação, a presença,
no plenário desta Casa, de três estudantes do Curso de Administração Autárquica
da Universidade Independente de Portugal. Em Porto Alegre, buscam elementos de
conhecimento de administração pública. Essa é a razão da visita dos estudantes
portugueses Susana Patrícia Coelho, Nuno Miguel Simões Lopes e José Antônio
Oliveira Dias.
A presença desses estudantes
no Plenário desta Casa honra este Legislativo Municipal, que tem suas raízes nas casas legislativas
municipais do direito luso, bem como, do Direito romano. Muito nos honra as
suas presenças aqui. A nossa Cidade tem a sua presença maciça de formação
açoriana, eis que essa é a história da cidade de Porto Alegre Tenham uma boa
estada em nossa Capital.
Encontra-se presente também,
a Sra. Janete Cruz, que representa a Direção da FEBEM. Passamos à
ORDEM DO DIA
DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO
PROC. 2447/97 - PROJETO
DE LEI DO EXECUTIVO Nº 036/97, que acrescenta dispositivos e altera a redação das
Leis nºs 6787, de 11 de janeiro de 1991, e 7595, de 17 de janeiro de 1995, bem
como acrescenta requisitos à candidatura de Conselheiros Tutelares. Com Emendas nºs 02 a 27, Subemenda nº 01 à
Emenda nº 05 e Substitutivos nºs 01 e 02.
Urgência.
- da CCJ, CEFOR, CUTHAB, CECE e CEDECONDH.
Relator-Geral Ver. Antonio Hohlfeldt: pela rejeição do Projeto, das
Emendas nºs 02 a 26 e da Subemenda nº
01 à Emenda nº 05.
O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn):
Discussão
e
Votação do PLE nº 036/97
A requerimento do Ver. Nereu D’Ávila acha-se destacada a Emenda nº
9, ao Substitutivo nº 1, aposto ao PLE nº 036/97.
Consoante decisão do Sr.
Presidente desta Casa, na última Sessão Ordinária, por ocasião do adiamento por
uma sessão, achavam-se inscritos vários Vereadores. Nós vamos dar continuidade
àquela lista. Acham-se inscritos para discutir: a Vera. Anamaria Negroni, o
Ver. José Valdir, a cedência do tempo do Ver. José Valdir é para o Ver. Adeli
Sell; o Ver. Renato Guimarães; a Vera. Maria do Rosário; a Vera. Clênia
Maranhão, o Ver. Reginaldo Pujol o Ver. Cyro Martini, o Ver. Elói Guimarães e o
Ver. Fernando Záchia.
Em discussão. A Vera.
Anamaria Negroni cede seu tempo ao Ver. Antonio Hohlfeldt, que está com a
palavra.
O SR. ANTONIO HOHFELDT: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu quero retomar a
linha de discussão proposta pelo Ver. Corbellini, na Sessão de quarta-feira. O
que de fato nós temos que ter claro é que a discussão de fundo que esta Casa
faz não é uma discussão em torno de pessoa que, eventualmente, prestam ou
desempenham funções no Conselho Tutelar.
O Conselho Tutelar e os
Conselheiros são um instrumento útil, legítimo, respeitável, importante, mas o
principal é a criança e o adolescente. Nós não podemos perder, do horizonte da
nossa discussão, essa clareza com que o Ver. Hélio Corbellini abordava essa
questão, aqui na Casa, na quarta-feira, sob pena de naufragarmos nisso que é a
realidade do conjunto de emendas, infelizmente apresentadas ao Substitutivo.
Não porque seja de minha autoria, mas porque já havia buscado compatibilizar
mais de 25 emendas apresentadas. Nós acabamos tendo, em relação ao próprio
Substitutivo, um conjunto de emendas de tal sorte que, mais uma vez, estraçalha
e fragmenta a tentativa de uma política coerente em relação às crianças e
adolescentes desta Cidade.
Há duas questões que temos
que separar com clareza, e eu ouvi, há pouco tempo atrás, dois representantes
do Orçamento Participativo, que diziam falar pelo Orçamento e não pelo Governo,
e no entanto se limitaram a repetir o discurso oficial do Governo. Nós ouvimos,
Ver. Eliseu Sabino, no âmbito da nossa Comissão, dias atrás, manifestações de
conselheiros contrários à manipulação que a Administração Popular faz do
próprio conselho do Orçamento Participativo e dos Conselhos Tutelares, em
termos que nem os Vereadores da oposição têm colocado nesta Casa, até por uma
questão de respeito aos Vereadores do PT, ao Secretariado e ao Prefeito
Municipal.
A posição que eu,
particularmente, assumi, e busquei assumir enquanto Relator da matéria,
relatoria que eu não pedi - relatoria que num primeiro momento me foi
designada, com muita honra, pelo Presidente da minha Comissão, Ver. Eliseu
Sabino, e posteriormente foi encaminhada, como conjunto, pelo Ver. João Motta,
e aceita pelas demais lideranças -, foi uma relatoria que não estivesse
preocupada nem com as eventuais incompatibilidades com a Administração Popular
nem com os corporativismos, que nos têm pressionado todos os dias, dos senhores
conselheiros, mas sobretudo, com a questão de uma política real e objetiva em
relação às crianças e adolescentes da Cidade. Nesse sentido foi que
trabalhamos, o Ver. Nereu D’Ávila, o Ver. Hélio
Corbellini, o Ver. João Motta, o Ver. Renato Guimarães. Menciono esses Vereadores porque
foram os mais envolvidos na questão por
já terem apresentado emendas, além do Presidente da Comissão de Educação, Ver.
Eliseu Sabino, que respondia pelo encaminhamento da questão.
Quero enfatizar, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, a posição antes assumida por mim, não como Líder
de uma bancada, mas como um Vereadores e sobretudo como um Relator que se esforçou
em ouvir partes e buscar mediações. O conjunto de emendas que temos,
realmente, parece-me que o que se venha
a aprovar pode criar um Projeto absolutamente colcha de retalhos, que será
pernicioso a tudo e a todos. Por outro lado, alerto aos Senhores Conselheiros
de que o Partido dos Trabalhadores insistirá, logo no início, passado o debate
imediato em relação ao Substitutivo, com
a retirada de um artigo que incluímos no Projeto e para esse artigo a
bancada da situação pediu destaque, retira aquilo que foi um acordo encaminhado
aqui na Casa, através do Sr. Ricardo Zamona, que aqui se encontra, e que a
Prefeitura tem que enviar até o final
deste ano as questões relativas ao restante do debate que os Senhores desenvolveram.
Eu quero deixar bem claro,
Senhores Conselheiros, olhando respeitosamente para cada um, sei que muitos não
concordam com aquilo que resultou no Substitutivo, e eu os respeito. Não atendi
a interesses particulares, não pretendo atendê-los, mas também busquei atender
sim àquelas coisas que eu achava que
eram institucionalmente fundamentais, e uma delas é cumprirmos a palavra, uma
delas é fazer acordo e cumpri-los. E se o Executivo passou um ano discutindo
com os Senhores e tinha que enviar para a Casa mais coisa do que apenas a discussão
de eleição, isso tem que ser feito. Portanto, eu apelo aos Srs. Vereadores para
que em primeiro lugar façamos o esforço da aprovação do Substitutivo nº 01, não
porque foi redigido por este Vereador, uma vez que foi uma designação que os
Senhores me passaram, mas porque ele tentou mediações que resultam
objetivamente no melhor caminho. Em segundo lugar, embora respeitando o direito
de todo e qualquer Vereador, de toda e qualquer Bancada, de apresentarem
emendas - esse é um direito inalienável -, eu quero de toda maneira enfatizar a
posição que defendo de não se aceitar emendas e destaques. Ou seja, temos de
tentar manter o Projeto original. Digo isso, não em nome de um lado ou de
outro, mas de um lado que talvez não esteja aqui, neste momento, fazendo pressão.
Não é nem a Prefeitura nem os senhores conselheiros, são as crianças e os
adolescentes que sofrerão a conseqüência do que vamos decidir hoje aqui. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Guilherme Barbosa): O Ver. José
Valdir cede seu tempo ao Ver.
Adeli Sell, que está com a palavra.
O SR. ADELI SELL: Sr. Presidente , Srs. Vereadores e demais presentes, eu quero
registrar aqui a importância do debate que estamos realizando acerca dos
Conselhos Tutelares, o processo eleitoral do próximo ano e a questão da
qualificação para aqueles que vão tratar com as crianças.
Quero enfatizar que não
admito, de jeito nenhum, pressões e chantagens. Não é meu estilo me irritar ou
gritar com alguém, mas às vezes eu acredito que deveríamos ter feito isso nos
corredores desta Casa. Eu fui visitado
nesta semana por algumas pessoas de uma vila popular de nossa Cidade que tinham sido informadas por pessoas que estão
aqui, neste Plenário, que a prova diria os conselheiros sabem fazer ou não
ofício ao juiz, se sabem ou não escrever corretamente. Isso é mentira porque esses conselheiros sabem
que a qualificação que estamos pedindo é sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente. Nós não estamos elitizando, estamos qualificando.
O Conselho, a Prefeitura, as
Organizações Não-Governamentais vão dar, em todos os momentos, os
qualificativos necessários para que os nossos conselheiros tenham cada vez
maior compreensão sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente. Não será chantagem como fizeram com este Vereador. Eu
sempre andei, desde muito tempo, nas vilas populares de Porto Alegre,
organizando movimentos sociais. Fui preso e não tenho por que baixar a cabeça
para chantagens feitas, inclusive por pessoas do meu Partido. Essas pessoas
tiveram o direito de discutir na Bancada, na sede do Partido e, se não o
fizeram, se não foram vitoriosas nas suas demandas, não é problema deste
Vereador.
Quero dizer que vou votar
sim pela qualificação, vou votar pelos pressupostos que foram discutidos pela
Administração Popular desta Cidade e que foi discutido com inúmeras pessoas que
cuidam e tratam com crianças. Queremos sim, cada vez mais, ter em Porto Alegre
um Projeto de vanguarda, não elitista, que significa que aqui apontaremos para
o resto do país a forma, as maneiras adequadas, mais corretas, mais
democráticas, mais participativas, mais cidadãs de como tratar com as nossas
crianças. Queremos, enfim, a qualificação. Não queremos que os Conselhos
Tutelares sirvam de disputa político-partidária. Não somos daqueles que, quando
o Plenário está lotado, fazemos um discurso para agradar um determinado
segmento. Nós temos a nossa consciência, a nossa determinação porque
construímos essas idéias através do debate e ouvindo, fundamentalmente. Somos
os que ouvimos, não ouvimos apenas àqueles que, nos corredores, nos
chantagearam. Ouvimos centenas de pessoas nesta Cidade, e estamos ouvindo
também as comunidades. Estamos ouvindo profissionais da área, estamos ouvindo a
Cidade de Porto Alegre, e não nos
intimidam, como estão tentando fazer alguns, com gestos e com palavras,
tentando perturbar o que estamos aqui colocando.
Nada, absolutamente nada nos
fará mudar de opinião porque construímos a nossa opinião ouvindo a todos e não
apenas a alguns que fizeram lobby, que fizeram acordos nesta Casa. Admira-me
que alguns que, ontem, caluniaram
Vereadores aqui desta Casa,
aplaudiram-nos na última Sessão. Admira-nos também que alguns, os que se
dizem grandes revolucionários, tenham aplaudido Vereadores que não têm essa
postura nem essa ideologia. Era isso. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Renato Guimarães está
com a palavra para discutir o PLE nº 36/97.
O SR. RENATO GUIMARÃES: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Comunidade que acompanha esta Sessão sobre a
questão dos Conselhos Tutelares. Acho interessante aproveitarmos a oportunidade
que a Câmara de Vereadores está nos
dando para, além de fazermos o debate sobre a escolha, aprofundarmos o
debate da concepção de proteção à criança e ao adolescente. E digo isso porque
no debate porque, no debate de quarta-feira, por trás de calorosas intervenções
defendendo posições "a" ou "b", se usava uma linguagem totalmente contrária à concepção do Estatuto
da Criança e do Adolescente. Foi dito nesta tribuna que o Conselho Tutelar deve
proteger o menor delinqüente. Quem conhece o Estatuto da Criança e do
Adolescente sabe que essa linguagem é do Código de Menores. Diariamente aqui se
faz o debate do processo de sucateamento da FEBEM, da intervenção no ICM pela
Brigada Militar. As intervenções que aqui se fizeram, defendendo autonomia dos
Conselhos Tutelares, não são as mesmas intervenções que se viram em outras Sessões que trataram de assuntos
referentes à proteção da criança e do adolescente.
Num assunto sério desses,
temos que tentar varrer a demagogia, e fazermos a disputa. O debate sobre
seleção prévia para os Conselheiros Tutelares, onde ela ocorreu não houve
consenso. Isso é o processo democrático. O Conselho Municipal da Criança e do
Adolescente, que fez esse debate, aprovou por maioria a seleção prévia. A Casa
sabe disso, os conselheiros sabem disso. Tenho posição pessoal contrária à
prova e estou negociando a aprovação porque a democracia faz isso, ela constrói
esse caminho.
No Conselho e no fórum
Municipal, onde estão todas as entidades desta Cidade que lidam com atendimento
e proteção à criança e ao adolescente, esse processo passou com maioria. É interessante destacar isso para
dizer que o que estamos tratando nesta Casa é de arrumar uma Lei que tem vida
conjuntural, isto aqui é um momento, a vida vai mostrar se está certo ou
errado.
Essa Lei, no futuro, teremos
de ter a responsabilidade de estudá-la muito bem, porque o processo, o método que nós construímos para discutir a
escolha dos Conselheiros Tutelares foi
um método que acabou fazendo com que a gente enxergasse só uma questão,
que enxergássemos só o porquê de um determinado Conselheiro ter tal perfil. Não
é um método que faça com que a gente volte à experiência inicial dos conselhos
tutelares. Futuramente, vamos ter de abrir novamente o debate sobre esta Lei e
reconstruí-la, aí teremos que tratar um conjunto de outras questões, portanto,
a nossa Bancada vai retirar o destaque do art. 26. Entende a nossa Bancada que
esse artigo garante que os outros
assuntos referentes ao Conselho Tutelar: Corregedoria, a questão do
redimensionamento das micros tem de ser tratada sim. Nós já anunciamos isso ao
Ver. Antonio Hohlfeldt que em negociação construiu conosco o Substitutivo. Nós
vamos retirar o destaque e vamos aprovar esse artigo, porque entendemos que as
outras questões envolvendo o Conselho Tutelar, no processo, cada uma a seu
momento têm de ser tratadas e resolvidas. Neste debate quero destacar que é
interessante que nós, além de discutirmos a escolha de conselheiro tutelar, se
diga que Porto Alegre começou com oito conselhos tutelares e continua com essa
quantidade. Pergunto a vocês como está São Paulo em relação aos conselhos
tutelares? ...
(Manifestações nas galerias.)
O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): O tempo de V.Exa. se esgota e a Mesa alerta, mais uma vez, aos nossos
convidados, à platéia, que não são permitidas manifestações. Peço a todos
contribuição, nesse sentido.
O Ver. Cyro Martini cede o seu tempo, de 5 min, a V.Exa.
O SR. RENATO GUIMARÃES: É interessante colocar aqui, neste debate, que
aqueles que questionam o processo, em Porto Alegre, deveriam conhecer como se
dá o processo em outras cidades. Existe um conjunto de cidades, no País, não
vamos precisar nominar, que a indicação de um Conselheiro se dá por um canetaço
do Prefeito. Nós sabemos disso. Em virtude da divergência que temos sobre o
mérito específico da eleição, não vamos confundir e colocar todo mundo no mesmo
balaio. Porto Alegre tem muita diferença em relação a um conjunto de cidades do
País, que, da forma mais autoritária,
indica os Conselheiros Tutelares...
(Manifestações no Plenário.)
O SR. PRESIDENTE: Interrompo o tempo de V.Exa.
para fazer um derradeiro alerta. Nós solicitamos a contribuição de todos no
sentido de que seja garantido o mínimo de clima favorável para o
desenvolvimento desta Sessão. Na próxima oportunidade, a persistir este quadro,
nós suspenderemos os trabalhos. V. Exa. ainda dispõe de 3 minutos e 50
segundos.
O SR. RENATO GUIMARÃES: Destaco esta questão de fazer a comparação, para
dizer que não é por causa desse momento conjuntural que a gente vai dizer que
Porto Alegre está jogando no lixo o processo
que construiu o Conselho Tutelar. Não, estamos tendo uma divergência pontual e conjuntural neste momento. Isso
não se compara em nada a um conjunto de processos, no interior e no resto do
País, de escolha de Conselheiro Tutelar
que são processos autoritários e com indicações, por parte de prefeitos.
Porto Alegre não construiu e nem vai construir. É importante colocar.
No entendimento da nossa Bancada
o debate sobre o Substitutivo do Ver. Antonio Hohlfeldt vinha no
interesse de tentar trabalhar um processo
que se adequasse mais às vontades
apresentadas. A Bancada do Partido dos Trabalhadores apresenta Emenda ao Substitutivo com o objetivo de
ajustar o texto, porque estamos fazendo um debate onde não estamos olhando o
conjunto todo que está sendo apresentado e podemos aprovar ou derrotar um elemento desse projeto e deixar passar um
conjunto de outras propostas que são mais prejudiciais do que a questão da
prova. Por exemplo, a questão da avaliação psicossocial para ter capacidade de intervir em conflitos
sócio-familiares. Como isso vai ser medido? Se estamos fazendo a contraposição
a um elemento, não estamos enxergando outros elementos que no fundo são mais
prejudiciais ainda. Portanto, tivemos que fazer destaques e apresentar emendas
a esse conteúdo.
No nosso entendimento, como
a questão da prova teve essa divergência. Nós apresentamos um conjunto de
emendas que encaminham a prova para um processo o mais popular possível. Isso
quer dizer que estamos propondo uma avaliação em que 60% dessa avaliação vão
estar ligados ao conhecimento popular desse candidato e, 40%, à lei. O Ver.
Lauro Hagemann apresentou uma emenda para caracterizar que queremos construir
um outro perfil para esse processo de seleção, que é um processo que tem que se
caracterizar como um processo popular.
As divisões pontuais que
construímos no processo não podem construir um processo que devaste o resto das
nossas articulações e das nossas unidades. Vamos continuar nas outras lutas
gerais juntos, e aí, quero ver nós todos, nesta Casa, lutando contra os
verdadeiros adversários. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Esta Presidência entende que esta votação se desdobra pela sua
importância e, naturalmente, desperta um interesse muito grande. Isso nos
permite apelar a todos que estão interessados no desdobramento dessa matéria
que, dentro das circunstâncias, contribuam da melhor maneira possível para que
o clima em que essa decisão ocorrer permita a legitimidade da decisão. Nós
apelamos a todos, Vereadores e convidados, para que ajam nesse sentido.
O SR. PRESIDENTE (Reginaldo Pujol): A Vera. Maria do Rosário está com a palavra,
por 5 minutos.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e Vereadoras,
(Saúda a todos os presentes), não é demais dizermos que os Conselhos Tutelares
foram criados pelo ECA, lei federal de 1990, que justamente fez uma revolução
no que se trata da concepção acerca da criança.
À criança, a partir desta legislação, foi garantida a condição de
cidadania, de direitos, de plenitude de direitos, e aos direitos da criança
correspondem as obrigações do Estado, do Poder Público, da sociedade, da esfera
federal, da esfera estadual e da esfera municipal tantas vezes desarticuladas,
mas com responsabilidade, e da família. Isso ficou estabelecido a partir da
Constituição de 88 e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Pois é justamente de uma
parte do Estatuto que estamos tratando aqui, mas é provavelmente do seu
coração, de como garantir esses direitos, de como viabilizar, de quem cuida dos
direitos, de quem aciona contra o Poder Público, de quem representa este, que é
pleno de direitos, mas que sozinho, Srs. Vereadores, não tem a possibilidade de
fazê-los verdade. daquele que tem o direito à escola, mas milhares estão fora
da escola; daquele que tem o direito de não ser explorado pelo trabalho, mas
milhares são explorados pelo trabalho - e o Rio Grande do Sul, não devemos nos
orgulhar disso, é o campeão na exploração do trabalho infantil nas carvoarias,
nas lavouras e na vida urbana -; daquelas crianças que são vítimas da
exploração sexual, dentro das suas casas, na rua; pelo tráfico. Esses que têm
direito, na lei, não têm como, Srs. Vereadores - porque são crianças ainda e
não têm instrumentos próprios - ocupar os espaços públicos e dizer do seu
desejo, da sua vontade e do seu direito, e é para isso que existe o Conselho
Tutelar. O Conselho Tutelar é o instrumento de garantia de direitos. Ele luta,
enfrenta os poderes constituídos e requisita esses direitos. O art.136 do ECA
cita onze atribuições, e, entre elas, muito mais definidas ao Conselho Tutelar.
Devemos conhecer todas elas, sem dúvida.
Mais do que conhecermos, é essencial que possamos conhecer toda
essa legislação para termos a criança como prioridade. O Conselheiro Tutelar
precisa conhecer o seu instrumento de trabalho. Todo cidadão precisa conhecer.
A criança, muitas vezes, Srs. Vereadores, não tem presente todos
os seus direitos e tem seus direitos violados. O Conselheiro precisa saber. Ao
Conselheiro não é permitido errar. Vocês me dirão: é humano errar. Mas a
verdade é que uma medida errada, uma medida não aplicada adequadamente para uma
criança - pensem em seus filhos - pode marcá-la para o resto da vida.
Srs. Vereadores, as famílias nem sempre são o ninho de amor e de
proteção que deveriam ser. Mais de 70%, quiçá 80% das violências contra
crianças são cometidas por aqueles que deveriam protegê-las: pais, padrastos,
tios, pessoas que moram próximo.
O Conselheiro Tutelar precisa intervir, atuar junto às famílias.
Por isso é que me dirijo a V. Exas., no sentido de que possamos articular dois
critérios fundamentais. O primeiro, o que Porto Alegre tem garantido através da
sua cidadania, é o critério da
representatividade, da vida popular, do engajamento na comunidade. Este é um
critério que nunca negamos, ao contrário: os Conselhos Tutelares foram
instituídos já com as Administrações Populares, e foi um princípio de todas as
Administrações Populares, que eles fossem
eleitos pela comunidade. Faço questão de revigorar essa memória porque o
Partido dos Trabalhadores foi, aqui, atacado na última Sessão. E quero dizer a
Vossas Excelências que o nosso Partido, quando está na representação da Câmara,
quando está na representação da Prefeitura e quando está no movimento, tem
posições claras, favoravelmente à representatividade.
O SR. PRESIDENTE: Vera. Maria do Rosário o Ver. Guilherme Barbosa está inscrito e cede o
tempo a V.Exa.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Eu agradeço ao Ver. Guilherme Barbosa e a V.Exa. Eu
não sei se os Vereadores estão conseguindo me escutar.
O SR. PRESIDENTE: Solicitamos silêncio ao Plenário para que a oradora que está na tribuna
possa ser ouvida por todos.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, eu digo aos Senhores que acho
importante que nós possamos nos escutar, pois quero que a minha posição, nesta
tribuna, que é a posição de minha Bancada, do meu Partido, possa ser escutada
para que ela possa ser criticada, também, que possa ser trabalhada. Eu gosto de
ter as posições claramente estabelecidas. Acho que todos os nossos colegas
merecem esta possibilidade de aqui expressarem o seu posicionamento.
Srs. Vereadores, Senhores e
Senhoras da comunidade, digo que é preciso aliar dois critérios: o da
representatividade e, por que não, o do conhecimento do Estatuto da Criança e
do Adolescente e da solução concreta de questões como aqui está sendo proposto.
Quem é contra que os conselheiros conheçam e apresentem o seu conhecimento
acerca do Estatuto da Criança e do Adolescente. E por que é contra? Srs. Vereadores, por favor, não façamos
internalizar o discurso discriminatório e vil que se faz das camadas populares
deste País. Eu defendo que aliemos
os dois processos, o processo da
representatividade. Acho que é discriminatório sim dizer que as pessoas das
camadas populares não vão passar
na prova. Vamos fazer uma leitura, porque, se falarmos em eleições,
todos nós dentro do Plenário
temos representatividade também e
defendemos a partir das
nossas convicções e posições.
Agora, Srs. Vereadores, se dizer que quem vem
da vila popular, quem vem da comunidade não
vai passar em prova é
internalizar o discurso de que são
incapazes. Eu não acredito que quem vem
da comunidade popular é incapaz; acho que eles têm capacidade e condições de dar aula para muito doutor.
Aqui está um doutor que não foi bom
Conselheiro Tutelar e que está do lado dos que não querem prova. Srs. Vereadores, diga-se aqui a
verdade: devemos articular,
porque, quem vem da camada média
da população - o Conselho Tutelar é para todos -, quem vem das camadas
altas da população têm muitos recursos e têm muitas vezes um psicólogo e um advogado a sua disposição, mas quem está na camada popular,
a criança que está numa comunidade,
que está fora da escola muitas vezes
vai contar somente com esse recurso, o do Conselheiro Tutelar. Discriminatório é não querer que quem trabalha com a criança tenha qualificação;
discriminatório é acreditar que quem
vem da
vila popular não passa em prova,
uma vez que a prova será elaborada pela própria comunidade. Esse é o
critério que o PT e o Executivo estão propondo. Agora, quem usar o discurso de
que quem está na vila popular não tem capacidade, tem que rever seus conceitos,
porque defendo uma sociedade sem exclusão, uma sociedade de valorização do
trabalhador, que o trabalhador tenha auto-estima, saiba que tem valor e saiba
dizer ao Conselheiro Tutelar que ele está errado, que não está atendendo bem,
porque a Corregedoria, Srs. Vereadores, não atuou com o rigor que devia.
Deveria ter tido mais rigor, e vejo aqui Conselheiros Tutelares que, na hora em
que uma casa estava caindo, com crianças dentro, diziam que não era com eles.
Isto é a atuação do movimento popular?
Isto é dar as costas às crianças. Isto é dar as costas. Muitos bons
Conselheiros Porto Alegre tem. Porto
Alegre tem um movimento que é muito bom, de creches, de entidades da sociedade,
mas tem Conselheiros que não honraram sua função. E digo isto...(Aparte
anti-regimental.)... e a Senhora foi um exemplo.
(O Sr. Presidente preme a
campainha.)
O SR. PRESIDENTE: Questão de Ordem com o Ver.
Gerson Almeida.
O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente, apenas gostaria que fosse assegurada
a continuidade da fala da Vereadora para que pudéssemos acompanhar todo o
processo, ouvindo os argumentos a favor ou contra.
O SR. PRESIDENTE: Solicitamos, mais uma vez silêncio. Não queremos chegar a uma atitude
extrema. Não provoquem porque temos condições de suspender a Sessão, havendo
qualquer provocação.
Com a palavra a Vera. Maria
do Rosário, que tem mais trinta segundos para completar seu pensamento.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Não estou preocupada - e
digo isso a todos os Conselheiros de Porto Alegre, aos que defendem a prova,
aos que são contra a prova, aos que entendem de forma diferenciada a
qualificação - com a opinião de vocês. Estou preocupada com o atendimento que
vai se fazer às crianças. É isto o que me preocupa, é isto o que pauta o meu
voto, é isto o que pauta a minha posição. Sou parte de um movimento de direitos
da criança e de defesa do ECA. Provavelmente, nesta Câmara, os Srs. não
estejam-me ouvindo falar pela primeira vez em direito da criança e do
adolescente, mas quero dizer que me coloco aqui na postura de Vereadora e de
pessoa comprometida com crianças e adolescentes e não na postura de quem é
candidato a Conselheiro Tutelar e quer uma forma mais fácil de chegar a um
cargo, quer uma forma mais fácil de chegar a um salário.
Compreendo a angústia da
comunidade, mas quero dizer, para as pessoas sérias da comunidade, que não
internalizem o discurso de que a comunidade é incapaz. Existe mais capacidade e
mais valor na comunidade do que algumas falsas lideranças estão dizendo. Muito
obrigada a todos, acho que é muito importante este debate. A democracia é isso
e os plenários são espaços democráticos. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa apregoa o pedido de retirada de tramitação da emenda nº 13,
assinado o Requerimento pelo Ver. Fernando Záchia, autor da emenda. Já foi
deferida pelo Ver. Reginaldo Pujol, quando me antecedeu na Presidência.
Quero pedir a todos que
compreendam que é preciso ter paciência. A democracia se faz com respeito
mútuo. Não adianta a gente pensar que vai ganhar no grito ou na provocação. Os
Vereadores têm direito de dizer o que acham que devem dizer. São os únicos que
têm total direito assegurado pela Mesa.
A Vera. Clênia Maranhão está
com a palavra.
A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Conselheiros
Tutelares, cidadãs e cidadãos de Porto Alegre que exercitam o direito legítimo
da democracia e exercitam o seu direito de cidadania nesta procura de construir
um aprimoramento no processo ainda em construção da defesa dos direitos das
crianças e dos adolescentes da nossa Cidade, eu queria dizer que esta Casa está
de parabéns, não só pelo debate que trava nesta Tribuna, mas pelas inúmeras
reuniões que organizou para o aprimoramento, inclusive, construindo dois
Substitutivos ao Projeto original.
A questão que estamos
debatendo, na verdade, é uma concepção do que é qualificação e o que é
democratização de um processo. A nossa responsabilidade, enquanto Vereadores,
é, ouvindo todos os argumentos das pessoas que trabalham com este setor e das
pessoas que são atendidas por ele, construir a legislação, que de uma forma
mais qualificada e de uma forma mais comprometida com os direitos das crianças
e dos adolescentes, possa ampliar a garantia desses direitos. Portanto, não
compactuo e não concordo com a utilização desta Tribuna por alguns Vereadores
que trazem para esse debate questões políticas que não têm a ver com a questão
específica que é a questão fundamental a qual estamos discutindo.
Construí um pensamento a
partir de consultas, de visitas ao meu gabinete e de visitas a Conselhos
Tutelares, como fizemos através da Comissão de Educação ontem à tarde,
visitando a microrregião 1, a partir de denúncias seríssimas, gravíssimas e
responsáveis feitas pelo conjunto daqueles conselheiros que hoje recorrem ao
Ministério Público para que a Prefeitura de Porto Alegre honre seu compromisso
e garanta o cumprimento da Lei, porque é previsto no ECA a infra-estrutura
necessária para o funcionamento do Conselho Tutelar.
A crítica que aqui faço
também faria se fosse outro governo, faria se fosse no meu governo, porque o
parlamentar é responsável pela administração e pelos interesses do conjunto da
cidade. Eu acho muito importante a qualificação de todos os Conselheiros,
porém, não acho que apenas uma prova seja suficiente para a avaliação da
prática que o Conselheiro terá. Conhecer o ECA é fundamental, mas conhecer o
ECA não é suficiente. É fundamental o que o Conselheiro tenha a oportunidade de
conhecer o ECA, porque nem todos, pela sua dificuldade de vida, pela sua
dificuldade de participar das universidades, têm acesso a essa informação. É
preciso que sejam dados cursos a todo cidadão que quer trabalhar nessa área,
para que ele se capacite e para que ele tenha igualdade de oportunidades nessa
disputa. Nós devemos garantir o conhecimento do ECA, mas temos que ter
mecanismos para conhecer profundamente aquele cidadão que vai ser o Conselheiro
Tutelar, para ver que tipo de concepção de vida, que tipo de princípios ele vai
usar para reger a aplicação do ECA, que é um instrumento frio da lei.
Eu acredito que nós, hoje,
devemos aqui aprofundar essa discussão e devemos, inclusive, pensar que nós
lutamos veementemente para a criação do ECA, porque nós não acreditávamos que
aquele modelo centralizado e burocratizado de antigamente servisse. Não vamos
deixar que nossas concepções sejam permeadas por essa concepção do passado e
que venham cabrestear as decisões, porque elas têm que ser democráticas e livremente
tomadas da comunidade. Eu acho que ninguém mais do que a comunidade tem a
capacidade de avaliar o seu Conselheiro. Agora, a obrigação do Poder Público é
dar para ele o conhecimento, dar para ele a oportunidade de conhecer isso, estrutura, na prática, e formação para que
ele possa disputar em condições de igualdade.
Para concluir, eu queria
dizer que é muito importante, para todos o Vereadores aqui, a situação real dos
Conselhos, porque falta, na constitucionalidade deles, um corpo técnico de
apoio, de suporte para garantir o exercício concreto do ECA; não há uma
estrutura e existe a necessidade de
ampliações das regiões que viriam a garantir a maior democratização desses
serviços.
Espero que esse debate que
hoje se estabelece sirva, principalmente, para que o Poder Público de Porto
Alegre cumpra com a sua obrigação, que é a obrigação de passar as informações e
garantir a estrutura necessária porque, sem ela, pode ser o Conselheiro o maior
conhecedor do ECA, mas não tem condições de executá-lo bem, porque não tem
condições de acompanhar a comunidade. Muito obrigada.
(Não revisto pela oradora)
O SR. PRESIDENTE: Estão suspensos os trabalhos para que haja um momento de reflexão da
platéia. Se não houver compreensão, nós
vamos evacuar os visitantes do Plenário, porque há pessoas que estão,
nitidamente, provocando e desrespeitando a Mesa.
(Suspendem-se os trabalhos
às 11h22min.)
O SR. PRESIDENTE (às 11h25min): Estão reabertos os trabalhos. Solicitamos aos Srs.
Assessores que retomem os seus lugares. A Mesa havia combinado ontem, e já não
está sendo cumprido, de que o espaço utilizado pelos visitantes seria apenas os
locais sentados. Enquanto houver pessoas em pé, aqui na frente, nós não podemos
continuar a Sessão. Estamos fazendo um apelo para que um grupo de oito a dez
pessoas fique de cada lado, e fique liberada a mureta aqui da divisão entre o
Plenário e a platéia.
Nós temos o maior respeito e
o maior interesse em que todos participem, a Mesa não está tomando partido,
está fazendo um trabalho isento e quer que todos tenham o entendimento de que, na democracia, o contraditório é
assim, e hoje ele é muito forte.
Então, os Vereadores também,
se me permitem, precisam colaborar, na medida que os seus discursos possam
evitar determinados tipos de ataques, senão, é impossível manter o silêncio. Eu
agradeço aos visitantes que, imediatamente, atenderam ao pedido da Mesa e volto
a fornecer a palavra aos inscritos, tendo certeza de que vamos conseguir, nesta
manhã, decidir as questões democraticamente.
Apregoamos um destaque ao artigo 29 do Substitutivo nº 1, Emenda
do Ver. Gerson Almeida, na expressão: "o Parágrafo Único do art.
32". Esse é o destaque, no art.29.
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra para discutir o PLE nº
36/97.
O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, a Casa, pelo
segundo dia consecutivo, discute exaustivamente o Projeto de Lei, originário do
Executivo, com dois Substitutivos, que são submetidos aos Srs. Vereadores, além
do infindável número de emendas, todas elas destinadas a colocar posições
isoladas de alguns dos Srs. Vereadores.
A matéria, naturalmente, é
polêmica. Discute-se, inclusive, até mesmo em nível nacional, a competência do
Estatuto da Criança e do Adolescente, não faltando neste País alguns que fazem
reparos a essa Instituição. Isso não vale no caso da discussão dessa matéria,
neste momento. O que importa - e me parece que esse é o fluxo central da
discussão - é discutir se este Legislativo Municipal, se o legislador do
Município, se o parlamentar municipal pode ou não, ao regular o cumprimento do
Estatuto da Criança e do Adolescente, especialmente da escolha dos conselheiros
tutelares, ir além daquilo que dispõe o art. 139, da Lei que institui o
Estatuto da Criança e do Adolescente.
Muitos que criticam o
critério de seleção e a pouca
qualificação exigida, entendem que o rol não pode ser ampliado,
defendendo o art. 133, que é taxativo -
e não exemplificativo, como alguns pretendem - sendo vedado ao
Município, opinião de um considerável número de analistas jurídicos da
matéria, ao editar a norma
regulamentadora da eleição, fixar requisitos para a candidatura, diferente do
previsto na Lei 8069, de 1990. Eu não estou trazendo ao debate nada que não conste
nos autos. Fiz aqui uma leitura do
Parecer prévio da Dra. Suziane Mespaque, da Procuradoria da Casa. Penso até que
foi alimentado nesse princípio que o Ver. Nereu D’Ávila propôs o Substitutivo
nº 2, que mantém absoluta sintonia com o que dispõe a Lei Federal, que instituiu o Estatuto da Criança e do
Adolescente, previu a existência dos Conselhos Tutelares e a forma pela qual o
mesmo deveria ser constituído. Onde não se dá desprezo integral, absoluto, a exigência de qualquer
tipo de preparo, como alguns teimam em querer fazer crer nesta hora.. Mas onde
se cria uma série de exigências
objetivas e que são mantidas no Substitutivo, especialmente na redação dada ao
art. 23, quando fala no efetivo
trabalho com criança e adolescente, ou em defesa do cidadão de no mínimo 2
anos, atestado por 3 entidades cadastradas, e tudo mais que todos conhecemos.
Então, Ver. Nereu D’Ávila, nós estamos na polêmica de saber o seguinte: vamos nós
aqui, Legisladores Municipais, erguer obstáculos, dificuldades, exigências, que
o Legislador Federal não fez? É certo, para nós, assim proceder? Qual a
convicção que nos autoriza a introduzir nesse processo uma série de exigências
e cujas especificações têm sido objeto, inclusive, de cuidado zeloso de
vários Srs. Vereadores, sem responder
objetivamente a essas necessidades.
Nós sabemos que têm vários
conceitos que são tradicionais na colocação de lei, que pela sua própria origem pecam pela indefinição e pecam pela imprecisão. Existem, tanto no
projeto como no substitutivo expressões como aquela: "aptidões físicas e mentais para o exercício do mandato." Como definir e
limitar essas aptidões físicas e mentais. ? Eu quero dizer a todos os
meus companheiros da Casa que eu normalmente nunca deixo de me posicionar sobre
as matérias que aqui ocorrem. Manifesto claramente a minha simpatia pelo
Substitutivo nº 02 de autoria do Ver. Nereu D'Ávila porque não gosto de
situações híbridas e penso que numa matéria dessa profundidade é tremendamente
arriscado querermos navegar sobre águas conturbadas buscando criar institutos novos
que correm o risco de elitizar de tal ordem o processo que anule o objetivo
daqueles que ditaram a Lei Federal, sobre a qual ofereço restrições, mas que
enquanto ela perdurar é meu dever como
brasileiro a ela respeitar. Manifesto a minha simpatia pelo Substitutivo
nº 02 que ao meu juízo é o que melhor consulta
os interesses neste momento. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Cyro Martini está com a
palavra. Ausente. O Ver. Elói Guimarães está com a palavra. Ausente.
O SR. LUIZ BRAZ (Questão de Ordem) : Se não me engano, o Ver. Cyro Martini já
tinha cedido seu tempo para um dos oradores que estava na tribuna.
O SR. PRESIDENTE: V.Exa. tem razão. Agradeço a V. Exa. De fato, o Ver. Cyro Martini não
está inscrito. Eu dei uma informação errada ao Ver. Elói e quero dizer que
quando ele retornar terá o seu tempo garantido.
O Ver. Isaac Ainhorn está
com a palavra por cedência de tempo do Ver. Fernando Záchia. Ausente.
Temos mais destaques a apregoar: Destaque às Emendas do Substitutivo
nº 1. Emendas 7, 8, 11, 12, 1 e 2. Em
ordem numérica. É assinada pelo Ver. Gerson Almeida.
Por cedência de tempo do
Ver. Pedro Ruas, o Ver. Nereu D'Ávila está com a palavra.
O SR. NEREU D'ÁVILA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, ontem, em sucessivas
perguntas interativas à TVCOM às 20h30min e, posteriormente, às 23h,
formulou-se perguntas à população. Às 23h foi perguntado se a população
conhecia os Conselhos Tutelares. A População, por grande maioria, respondeu que
não conhecia. Então, é necessário ser
didático, para que se esclareçam as situações. Por exemplo, quando se fala para
a população, quando se discuti, se mistura a questão de que é evidente que uma
pessoa completamente desqualificada e
sem qualquer conhecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de
conhecimentos mínimos do que será a sua função, não pode exercer essa função.
Isso é lógico e claro. Então, eu cheguei a dizer no programa que, se fosse
perguntado a mim o que foi perguntado às 20h30min quando eu e o Vice-Prefeito
Fortunati estivemos na TVCOM, eu responderia, como a maioria respondeu: é
necessário que o Conselheiro Tutelar tenha conhecimento mínimo do Estatuto da
Criança e do Adolescente. Mas o que se quer vender, ou tentou se vender para a
população, é de que em Porto Alegre estamos em
tábula rasa, estamos no marco zero em relação aos Conselheiros, ao
Estatuto e procedimentos mínimos para lidar com a criança.
Está aqui, e já estava na
Lei Municipal que votamos, a Lei 6787, de janeiro de 1991, e continua no projeto
do Executivo, que foi rejeitado pelo Substitutivo nº1 e aceito por este
Plenário nas Comissões Conjuntas, e está no Substitutivo nº1, que diz o
seguinte: "Requisitos para candidatar-se a membro do conselho tutelar. Efetivo trabalho com
criança e adolescentes ou em defesa do cidadão de, no mínimo, dois anos
atestado pelo Ministério Público, pelo Juizado de Menores ou poderes ou entidades cadastradas no
Conselho Municipal dos Direitos da Criança". E o Ver. Antonio Hohlfeldt
amplia o que já está na lei. Além do que li, ele coloca o seguinte: "...ou
credenciada pelo Fórum Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente,
Conselho Municipal dos Direitos da Cidadania contra Discriminações e Violência,
Conselho Municipal de Educação, Conselho Municipal de Assistência Social e
Conselho Municipal dos Direitos da Mulher." E depois, o inciso V ainda diz mais: "...Ter participado de
curso, seminário ou jornada de estudos
cujo objeto seja o Estatuto ou a
discussão de políticas de atendimento à criança e ao adolescente".
Essa é a realidade, a lei já
previa e continua prevendo. Então não se venda para a população falsamente e
até desonestamente que os conselheiros são analfabetos e chegam a esse
cargo só pela eleição, sem conhecimento
nenhum. Há pré-requisitos na Lei, sim.
Há apresentadores que levam, induzem com convicção, e até com boa-fé o tema,
mas preocupados com a criança todos nós estamos, vamos deixar isso claro. Aqui ninguém é
irresponsável! O que se discute mesmo é uma avaliação em prova de que se sabe
lá que conteúdos subjetivos serão
feitos nessa prova para aprovar ou desaprovar pessoas. Eu não estou sozinho na questão do arcabouço jurídico de
que se está fulminando alguma coisa que uma Lei Federal prescreveu, que é a
escolha dos Conselheiros e que uma Lei
Municipal agora poderá mudar, isto é, transformar um processo puramente eletivo
em um processo seletivo. Nisso não estamos sozinhos juridicamente, a própria
Procuradora da Câmara, num brilhante parecer aventado, há poucos instantes,
pelo Ver. Reginaldo Pujol, também coloca essa situação. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador. )
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Jorge Ribeiro cede seu
tempo ao Ver. Hélio Coberllini que está
com a palavra.
O SR. HÉLIO COBERLLINI: Senhor
Presidente e Senhores Vereadores. "Então o professor disse: Fala-nos do
ensino. E ele disse: Nenhum homem
poderá revelar-vos nada senão o que já está meio adormecido na aurora do vosso
entendimento. Se ele for verdadeiramente sábio não vos convidará a entrar na mansão do seu saber,
mas antes vos conduzirá ao limiar de vossa própria mente." Gibran, em O Profeta.
Estamos nesta Casa passando
pelo melhor debate que vimos este ano
sobre essa questão tão importante da nossa sociedade, que é o eixo que devemos
sempre trazer à discussão que é a criança e o adolescente. Esse é o eixo. Não é o Conselheiro nem o Conselho. É como
zelar pela criança e o adolescente. Na outra Sessão havia os não-provistas,
hoje temos, na platéia, os provistas. Essa questão pode ser falsa, porque temos
que debulhar o que é a palavra qualificar, que é a questão que estamos
discutindo. Qualificar para zelar pela criança e pelo adolescente. Eu disse, na
outra reunião, que o simples fato de
fazer uma prova sobre o ECA, necessariamente, não qualifica, mas sim mede,
possivelmente, não só o saber, mas sua capacidade de interpretação de um texto
legal. Que diz o espírito da lei? O espírito da lei maior, que é a Lei Federal,
menciona que a escolha do Conselheiro quanto a forma, pré-requisitos,
remuneração, se houver, será atribuição do Município, é a Lei Maior.
Aqui em Porto Alegre foi
escolhido o caminho mais democrático
que é a eleição, que também por si só não garante a qualificação. Mas, então,
como vamos descobrir esse caminho? Essas são as reflexões que estão sendo feitas aqui. Se a prova por
si só, sobre o Estatuto, não qualifica e a eleição não garante a qualificação,
então qual será o caminho? Se acharmos
esse segredo, tenho certeza de que todos os Conselheiros, os provistas e os
não-provistas que aqui estão também querem a qualificação do Conselho Tutelar.
Duvido que haja algum que não queira, porque o espírito do ECA diz que essa
função, que essa atividade que ele coloca como especial e de nobre interesse social, são para
pessoas com vocação para exercer aquela função. Se elas têm vocação para
exercer aquela função, o que isso significa? Necessariamente, fazendo a prova,
não vão mostrar quem têm vocação, como também, simplesmente com o processo
eleitoral, não se vai descobrir quem é o vocacionado, e é isso que temos de
garantir para nossas crianças e adolescentes
Nós sabemos de equívocos
cometidos em atendimento, tanto de Conselheiros como de Conselho. Nós sabemos
que a infra-estrutura está falha e, por isso, eu chamo a atenção dos Srs.
Vereadores: nós estamos começando a discutir o Orçamento da Prefeitura. Não é
só dizer o que a Prefeitura tem que fazer, mas é o momento de colocar, no
Orçamento, tudo aquilo que nós achamos que
é necessário para qualificar e dar toda esta estrutura que os Conselhos
reivindicam.
O SR. PRESIDENTE: A Vera. Tereza Franco se inscreve e cede o seu tempo a V.Exa. Não
havendo impedimento, V.Exa. tem mais 5min.
O SR. HÉLIO CORBELLINI: Nós, no Substitutivo, agregamos a prova. Além da
prova de conhecimento do ECA, há necessidade de se fazer algum tipo de
avaliação psicológica e que as pessoas tenham, no mínimo, a compreensão de
conflitos familiares. Por que isso é importante? Nós conhecemos um caso - e,
aqui, já foram vários relatados - que, pelo Conselheiro não perceber que havia um
conflito sério familiar e que aquele conflito estava colocando em risco o seu
filho, não fez a intervenção, e a criança acabou perdendo o braço. Não houve a sensibilidade e, certamente, o
Conselheiro não tinha esta vocação. Por todas essas dúvidas, eu li Gibran. Eu
tenho certeza de que muitos Vereadores depois desse imenso debate, estão em
dúvida, se fazemos provas ou não fazemos provas. É muito mais importante, do
que simplesmente fazer só o exame do ECA, uma avaliação daquele cidadão por
técnicos especializados nisso, para ver se são vocacionados, porque os
Conselheiros Tutelares são especialistas no trato da questão das crianças e dos
adolescentes.
O Ver. Nereu falou que
aqueles que ligaram ontem, que têm telefone, não conhecem o Conselho Tutelar.
Por que será? Porque na vila não existe telefone. Se as pessoas da vila
tivessem telefone elas iriam dizer
que conhecem o Conselho Tutelar,
se o Movimento Popular tivesse telefone iria dizer que conhece o Conselho
Tutelar.
Todos conhecemos o Movimento
dos Sem Terras – MST - que é um movimento que busca incessantemente a sua
qualificação. Como faz isso? De forma independente, autônoma, através de
convênios com universidades, com ONGs, não para aprender o que é a Reforma
Agrária , mas para absorver tudo que existe na sociedade de importante para ele
desenvolver cada vez mais a sua atividade. Digo isso porque o Conselho Tutelar
não é um movimento, mas o ECA está se tornando um movimento e o movimento que quer a sua qualificação
vai procurar todos os instrumentos para
buscar essa qualificação: cursos, convênios, etc. O Conselho Tutelar não é um
movimento porque o Conselheiro Tutelar tem uma função que tem início e fim, três anos, com a possibilidade de mais três
anos. A criança tem a primazia e é um ser que tem que ter a prioridade porque
ela é o hoje, ela não é o futuro.
Enquanto não houver essa
cultura, esse desenvolvimento, nós temos que ter, sim, aparelhos e formas de
qualificar os Conselhos Tutelares, mas não mistificar e não dizer só que
determinado ato é a forma correta de qualificação. Temos que determinar
exatamente qual é a melhor forma de encontrar aquelas pessoas que têm essa
vocação, porque Conselho Tutelar, vocês sabem, não é emprego e não é escada
para promoção política. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, temos mais um Requerimento de autoria do Ver. Gerson
Almeida, para a retirada do destaque ao art. 26 e a expressão do art. 29,
Substitutivo nº 1.
O Ver. Elói Guimarães está
com a palavra.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, entendo que não
andou bem o Executivo Municipal ao introduzir na lei a prova como critério ou
requisito. Então, na realidade, há necessidade de algumas conceituações. Eu
entendo que o critério da eletividade que domina, que é princípio reitor na
escolha dos Conselhos Tutelares, não convive, absolutamente com a prova. Não se
trata, portanto, a prova, de que requisito de admissibilidade. Requisitos de
admissibilidade são requisitos pré-constituídos. Exemplificativamente, a idade,
a idoneidade, o local de residência, etc. Prova é, indiscutivelmente, forma de
escolha, como a eleição também o é.
Poderíamos trazer à colação,
ao debate as formas de escolha que se conhece no Direito brasileiro ou no
Direito comparado. Os americanos elegem o xerife, é uma forma de escolha.
Mas o que fez o legislador
municipal? Em podendo adotar os critérios - porque a questão do critério é uma
questão de visão, de concepção - entendeu o Município de Porto Alegre e a sua
representatividade política que a forma de escolha que mais se ajusta a uma
concepção contemporânea é a eleição. Se a forma de escolha é a eleição, nós não
podemos, e não deveria ter podido o Executivo, mitigar o princípio. Do
contrário, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o princípio da prova derroga, por
antecipação, o princípio da eletividade.
Então, quando se entrega à
soberania popular a decisão para a escolha dos Senhores Conselheiros, todo e
qualquer princípio que se coloque que não seja pré-requisito, e se princípio de
forma, está-se comprometendo o objetivo, a conseqüência, a forma de escolha.
É nesse sentido, Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, que nós entendemos absolutamente contraditório
sustentar-se a prova como critério de forma, de escolha, ao lado do critério de
forma eletiva. Andaria muito melhor o
Chefe do Executivo se fizesse a ruptura da eletividade e adotasse, claramente,
a escolha via concurso público.
O que quero sustentar, neste instante, é exatamente que as duas
formas, a eleição e o concurso , são
incompatíveis. Absolutamente incompatíveis.
Nem vou entrar na discussão da subjetividade que a prova propõe.
Há critérios de prova. Posso, numa prova, criar níveis de dificuldade só
atingíveis por pessoas que detêm determinado nível de escolaridade. Posso pegar
o Estatuto da Criança e do Adolescente e formular questões tais que só possam
ser resolvidas por pessoas com determinada escolaridade. Esta é a questão
central, as demais são todas secundárias. Esta é a fundamental, Sr. Presidente,
Srs. Vereadores. É a opção que temos que fazer: ou optamos pela eleição - e a eleição não admite "capitis
diminutio", pela sua natureza de soberania popular - ou adotamos o
concurso.
Há quem defenda a eleição para juízes de Direito, por exemplo.
Agora, o que não há, e não me consta existir atualmente nem no Brasil nem fora
do Brasil, é a convivência dos dois
critérios.
A prova não é pré-requisito. Pré-requisitos são as condições
objetivas. A prova tem um campo subjetivo, é algo que vai acontecer, é
diferente da idade, da sanidade, da escolaridade, etc.
A meu juízo não convivem, como formas de escolha, a eletividade e
a prova. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa faz um apelo aos Srs. Vereadores para que reduzam o tempo dos
seus discursos, porque estamos num processo de exaustão e seria interessante
iniciarmos a votação do projeto mais rapidamente possível.
Solicitamos às pessoas que
estão em pé que se afastem para os lados,
esquerdo e direito, das galerias para permitir que os que estão sentados
não tenham a visão perturbada.
O Ver. Antônio Losada está
com a palavra, para discutir o PLE nº 36/97.
O SR. ANTÔNIO LOSADA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Srs. Conselheiros
e comunidade presentes. Gostaríamos de dizer que a nossa posição corresponde
àquela determinada por nossa Bancada.
O nosso voto, se não
houvesse o fechamento de nossa Bancada, seria contra a realização de prova.
Agora, em função de minha disciplina partidária e determinação da Bancada vou
votar favoravelmente à prova.
Quero fazer alguns
comentários rápidos em função de minha posição. Eu acredito que a prova, a
aplicação teórica, não incorpora a aptidão do trato humano na questão do
atendimento da criança e do adolescente enquanto que, àquela pessoa que tem o
conhecimento teórico, que tem a capacitação técnica, pode faltar o trato
humano. Nós sabemos disso, perfeitamente, porque acompanhamos os nossos
Conselheiros, desde os primeiros momentos, nas vilas, correndo durante as
madrugadas, na chuva, no barro, para socorrer uma criança, para impedir que ela
fique jogada ao deus-dará. Essa dedicação decorre de uma vivência direta com o
problema existente. Parece, também, que não se pode examinar isoladamente a
questão da criança e do adolescente
desligada de uma estrutura e de um
apoio administrativo para esse Conselheiro. Temos a Corregedoria para aplicar
as penas naquele Conselheiro que, por um motivo ou outro, não cumpra com o seu dever, mas eu espero
que este momento de debate e
mobilização de duas posições que, num primeiro momento, parece que não tem
significação, não sirva à aprovação
dessa prova, não sirva para dar outros passos no sentido de maior seleção, de
fazer com que se exija mais, porque as dificuldades, na nossa sociedade, vão
continuar. Que não se procure eliminar aqueles que não tiveram a possibilidade da escolaridade e do
conhecimento, mas que se construirão numa
escola de sofrimento, numa escola de humanismo, de solidariedade. Não se
trata aqui de problema de emprego ou
desemprego, de lobismo de vila
ou coisa parecida. O Partido dos Trabalhadores tem um compromisso que não
é transitório e eventual, não faz mais
nada do que a sua obrigação ao defender
uma posição de participação direta dessas camadas efetivamente
excluídas. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Registro, a pedido da Vera..
Anamaria Negroni, com muita
satisfação, a presença do Vereador
Suplente do PMDB de Porto Alegre Sr. Renato Stradolim. Estamos anunciando a presença, também, do poeta Jorge Matos e do
Presidente Municipal do PSB, nosso amigo de muitos anos, João Batista Marçal.
Sejam bem-vindos.
Tem a palavra o Ver. João
Motta, para discutir.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu gostaria, preliminarmente, de
limpar deste debate duas afirmações que tenho ouvido não só aqui neste
Plenário, mas ouvi na imprensa, ouvi em reuniões do PT, e eu não tenho a
paciência e nem o direito de continuar ouvindo mais, inclusive de companheiros
da minha Bancada: a primeira é de que aqueles Vereadores, que têm se
posicionado no sentido de questionar a prova como um princípio absoluto para a
qualificação do trabalho, sejam contra o trabalho em relação à criança e ao
adolescente. Não aceito esse tipo de juízo, seja em relação a Vereador da minha
Bancada, seja em relação a Vereador da oposição ou com relação a lideranças do
movimento popular; segundo: fazer a afirmação de que é um preconceito ao
conhecimento, considero inaceitável usarmos
este tipo de argumentação neste debate.
Todo indivíduo que se julga
absoluta e plenamente formado e constituído teoricamente, numa discussão, é um
sujeito burro, e não acredito que haja uma liderança popular que esteja tão
preocupada com esta discussão que sejam lideranças com este perfil, que sejam
lideranças emburradas. Ao contrário: estamos, portanto, aqui, fazendo uma
discussão de visão e de conceitos, e sobre isto se debruçam as nossas
diferenças e as nossas divergências.
Estou numa situação como a
do Ver. Antônio Losada, como a do Ver.
Décio Schauren, como o Ver. Renato Guimarães: temos uma posição diferente da
nossa Bancada, Votamos porque é uma posição do nosso Partido, que nos
centraliza enquanto Bancada, e vamos votar na posição encaminhada pelo
substitutivo do Ver. Antônio Holfeldt, com algumas emendas. Agora, gostaria de
registrar democraticamente duas questões nestes dois minutos e meio. Primeiro:
não podemos confundir função com cargo. A função do Conselheiro Tutelar é uma função pública de confiança popular, e
é eletiva, tendo com o Poder Público
apenas uma vinculação administrativa, em nível de recursos, de remuneração,
etc... Portanto se considerarmos que Conselheiro Tutelar é uma função, como
vamos fechar uma idéia absoluta de que a prova seja o único critério capaz de
fazer essa definição? É inaceitável, é uma burrice, teoricamente, fazer esse
tipo de afirmação. Nós estamos falando de cargo, portanto os princípios que
regem cargos e funções são diferentes.
Em segundo lugar, é evidente
também que o ECA expressa - e essa é uma prática social que, aqui em Porto
Alegre, se afirmou no desenvolvimento e na leitura sobre o Estatuto - que a questão da vivência comunitária no
trato das questões relativas aos direitos das crianças e adolescentes é uma
questão fundamental. E aqui nós estamos discutindo uma visão de que a vivência
comunitária deva ser preservada ou se sobre ela nós devemos colocar um conceito
de que o trabalho do conselheiro tutelar deva ser eminentemente técnico.
Não é eminentemente técnico,
não é essa a leitura que nós extraímos dos juristas que fazem os primeiros
tratados interpretando o ECA. Citem os juristas que fazem interpretações sobre
o ECA. Ao final do meu pronunciamento, eu vou citar uma afirmação de um jurista
que tem um estudo jurídico sobre o ECA.
Portanto, acho que o projeto original era equivocado por essas razões. A mediação, que pode não ser
perfeita mas que estabeleceu um reequilíbrio entre esse perfil mais técnico e a
questão da vivência, é a alternativa que nós acumulamos, com todas as
imperfeições, com todas as divergências, até porque esse assunto não está
encerrado com a aprovação desse Projeto.
Nós estamos remetendo esse Processo, essa prática social a uma
outra vivência, que aí nós vamos ver como vai se desenvolver. Se, portanto,
esse conceito que nós estamos colocando como conceito mais técnico sobre essa
atividade é correto ou não, a vida vai dizer, Ver. José Valdir. E aí nós vamos
ter um novo encontro, e eu espero que seja breve, pois estou convencido dessa
posição que eu estou defendendo, porque, de fato, a vivência é o critério que deve prevalecer.
Concluo, Sr. Presidente,
lendo apenas um parágrafo do jurista Wilson Donizete, jurista que mais tem
estudado a questão do ECA, que diz: "Além de ter idoneidade moral e
possuir mais de 21 anos, o conselheiro
deverá residir no Município. A evidência da colocação é meridiana, os problemas
vividos pela comunidade só poderão ser apreciados por alguém que conhece aquela
realidade. Não basta só o conhecimento teórico da realidade social, é
necessária a sua vivência com a comunidade.". Eu fico muito satisfeito.
fico agradecido e ficaria mais ainda, Vera. Maria do Rosário, se no final desta
votação, independentemente da posição que permanecer, estabelecêssemos um
acordo público de que a vivência com a comunidade é critério sim.Portanto, não
podemos secundarizar a questão de que a escolha do conselheiro deve se dar,
também, pela forma eletiva. É essa minha posição que, resumidamente, tive que
registrar. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Mesa registra, com satisfação, a presença do Dr. José Carlos
Martins, Vice-Presidente Estadual do PSDB e Presidente da Coordenadoria da
Região Metropolitana, por solicitação do Ver. Antonio Hohlfeldt que fazemos
nossa também. Saudamos a sua presença, seja bem vindo à Casa.
O Ver. Gerson Almeida está
com a palavra para discutir o PLE nº 36/97.
O SR. GERSON ALMEIDA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores e demais
companheiros e companheiras do Movimento Popular que acompanham a Sessão de
hoje. Hoje, na primeira hora da manhã, preparei um pronunciamento que queria
ler na Tribuna, porque, às vezes, no improviso, não somos exatamente precisos
naquilo que queremos dizer. Mas o tempo não vai me permitir ler e vou
distribuir a todos, para que aquelas posições que ficam escritas possam ser
debulhadas, discutidas, criticadas e melhoradas.
Eu fui atacado hoje, quando
discutimos o IPTU, de ser incompetente. E quero dizer que o discurso da
competência sempre tem sido uma arma usada contra as classes populares e
excluído de funções relevantes públicas. E é contra esse discurso da
competência, que divide o mundo entre competentes e incompetentes, que nós
criamos o Orçamento Participativo e apostamos contra muitos na sabedoria do
movimento popular em se apropriar de questões que até então, eram propriedades
dos doutores, das elites econômicas e culturais. O caráter popular da
administração que está em curso é evidenciado não num ou outro projeto, mas no
conjunto das propostas feitas, como, por exemplo, o serviço de atendimento de
alfabetização de jovens e adultos. O movimento de alfabetização, as comissões
de obra, as políticas para a Saúde.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa assegura o seu tempo e atende a uma Questão de Ordem do Ver.
João Dib.
O SR. JOÃO DIB (Questão de Ordem): Eu perguntaria qual o tempo em que fala o eminente líder do PT, já que
não está falando sobre o Processo, não sei se tem outro tempo diferente.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa vai solicitar ao Ver. Gerson Almeida que se detenha no Processo
em votação. A argumentação tem sido a mais variada e não vai ser nesse discurso
que vamos mudá-la. Não há como a Mesa interferir nesse sentido. Com a palavra,
novamente, o Ver. Gerson Almeida.
O SR. GERSON ALMEIDA: Felizmente nós já asseguramos em vários anos de
luta que a palavra é um direito de cada cidadão, concordem ou não com ela.
O caráter popular da
administração está evidenciado em todo conjunto de programas, porque é esse o
sentido, e está sustentado na idéia-chave de que o discurso da competência era
um discurso elitista e que todos os movimentos populares têm sabedoria e
capacidade, e nós temos que apostar nisso. É por isso que o Orçamento, que até
então era coisa de doutores, hoje, no momento em que ele passou a ser
controlado e construído com a participação popular, passou a mostrar e construir
uma cidade muito melhor.
Eu vou entrar no Projeto,
sim. Hoje se discute a questão dos conselhos tutelares e aí, mais uma vez o
caráter popular dessa questão está em discussão. E eu aceito debater, mesmo com
vereador que, nos governos que o seu partido faz, indique Conselheiros
Tutelares ou não tenha Conselheiro
Tutelar.
A questão da prova não
assegura, por si só, nenhuma melhoria na qualidade dos Conselhos Tutelares.
Conselhos tutelares dos quais possamos discordar no que for, mas nós não
podemos jogar essa experiência riquíssima que está em curso em Porto Alegre,
pioneira e vanguardista, na lata de lixo. Nós temos que valorizar, inclusive, a
experiência concreta que os conselheiros tutelares estão fazendo, que é um
trabalho magnífico que nós temos que aceitar, reconhecer e trabalhar no sentido
de cada vez melhorar mais.
A questão da prova, ela por
si só, não garante nada, mas é um dos elementos que constitui um processo de
qualificação cada vez maior do Conselho Tutelar, essa é a nossa idéia. Por quê?
Porque é uma função pública relevante, conforme o próprio ECA caracteriza,
inclusive, garante prisão especial. Garante também, que nenhuma decisão do Conselho Tutelar pode ser
revogada por nenhum outro órgão, que não a própria Justiça.
É uma função pública
relevante, e o objeto de trabalho é o Estatuto da Criança e do Adolescente. Por
isso, é preciso, como condição, conhecê-lo para exercer, na plenitude, essa
função. Companheiros e companheiras, nós não podemos dizer que isso não
é correto. Podemos até achar que não é a melhor maneira, mas que não é correto,
como pré-condição para ser Conselheiro
Tutelar conhecer o ECA, que é um
instrumento de trabalho. Segundo, nós não aceitamos o discurso, mas
reconhecemos a sua legitimidade. Queremos debater o discurso que diz que fazer
prova vai excluir setores popular do acesso a ser candidato. Isso não é
verdade, isso é não acreditar na sabedoria popular, Ver. Nereu D'Ávila.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Gerson Almeida, o seu tempo está concluído. A Mesa pede a V. Exa.
que conclua; pede, também, ao Ver. Isaac Ainhorn para que não faça aparte
anti-regimental. Faltam poucos discursos, não há por que voltarmos ao clima de
tensão. O Ver. Juarez Pinheiro se
inscreve e cede o seu tempo a V.Exa, que tem mais 5 minutos.
O SR. GERSON ALMEIDA: Agradeço. Eu quero continuar esse argumento,
porque, como dirigente sindical, como trabalhador do setor de telecomunicações,
eu sei muito bem com quem contávamos, sempre, para reconstruir o Sindicato,
para refazer as greves, para fazer as lutas que melhoravam a qualidade de vida
de todas as categorias, era com os chamados "arigós", aqueles
excluídos, e é por isso que devemos apostar sempre na capacidade popular. Tenho
certeza de que uma prova de conhecimento do ECA, de prática, prova essa que não
vai excluir aqueles lutadores e militantes sociais - que hoje estão nas
galerias e tantos outros que não estão -. Vai excluir aqueles que mesmo com
título de doutor, com canudo ou coisa do gênero, jamais tiveram uma única ação
prática em defesa da criança e do adolescente.
Eu quero dizer, também, que
essa é a fronteira tênue - e não
venho, já disse isso, e a Bancada do
PT não vem só para fazer discursos simples e fáceis -, que separa aqueles que
acreditam e apostam na sabedoria popular, aqueles que acreditam e apostam na
competência dos setores sociais populares, e o populismo, essa forma perversa
de manter sob tutela, e excluídos, os setores populares, querendo sempre que
tenha um "paizão", alguém que responda por eles e que trate a massa
como massa de manobra. Essa é a diferença radical e de fundo, que tem entre
aqueles que, apostando no movimento popular, apostando na construção de cada
cidadão, de todas as funções públicas. O povo, a população é capaz de assumir o
conjunto das funções públicas, pois assumiu o Orçamento, e o faz muito
melhor do que os "doutores",
do que as elites, que dominavam o orçamento público. Basta caminhar pela Cidade
para verificar isto: temos mais serviços públicos, temos mais qualidade nos
serviços públicos, a partir do momento em que a população começou a se
apropriar do Orçamento. Tenho convicção de que todas as políticas públicas, a
partir do momento em que a população organizada começa a se apropriar dessas
funções, ficam melhores.
Portanto, Senhoras e
Senhores, nós não queremos "paizões", não queremos donos da verdade,
e nem eu quero dizer que essa proposta, que o Partido dos Trabalhadores defende
é a proposta verdadeira, mas nós temos que testar, porque estamos no caminho de
aposta radical na sabedoria e na qualidade. É por isso que estamos erradicando
o analfabetismo com o Movimento MOVA, é por isso que com o SEJA estamos dando
acesso à escrita a centena de trabalhadores de Porto Alegre que não tinham
acesso a esse mundo. E é esse o sentido da nossa proposta, e eu quero testá-la
na prática. E é este o compromisso que a Bancada do Partido dos Trabalhadores
firma publicamente hoje: se essa experiência, esse processo demonstrar que vai
no sentido contrário daquilo que estamos convencidos, aquilo que nós queremos,
eu não terei nenhum problema de, mais uma vez, ter a grandeza, junto com a
Bancada do Partido dos Trabalhadores e com o governo, a grandeza da humildade,
de reconhecer que estamos errados. Como nós fizemos no cotidiano da
Administração Popular, onde Secretários, Prefeitos, Vereadores, dirigentes
Municipais, diariamente, sistematicamente se colocam à prova, à crítica, e ao
controle social da população. Isso sim é uma diferença radical de caráter,
caráter político e de compromisso, Ver., Nereu D’Ávila, com ou não
com o movimento popular.
Essa experiência nós não
podemos, repito, a experiência magnífica dos Conselhos Populares em Porto Alegre, vanguardista e
como referência nacional, não vamos aceitar discussões nacionais que procurem colocar o critério de escolaridade como
critério.
Para nós, como tem dito o
Ver. Décio Schauren e outros; o Conselheiro Tutelar é um cargo de confiança
popular. Confiança popular não é antítese de conhecimento e capacidade de usar
o instrumento de trabalho. Essa é a verdade. E, quanto mais conhecermos o nosso
instrumento de trabalho, mais capaz nós seremos de realizar o nosso trabalho.
Essa é a nossa proposta. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador. )
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Luiz Braz está com a
palavra.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. Existe alguns integrantes do PT que,
parece, fizeram curso para sofismar, porque é impossível alguém ser tão profissional nessa arte sem fazer um curso
de especialização.
Trouxe aqui, de um dos
Vereadores petistas, o pensamento de que aqueles que são contrários à prova
estão discriminando as populações das vilas populares, porque acreditam que
estas pessoas não são capazes de passar em uma prova de concurso.
Minhas senhoras e meus
senhores, o que seria mais discriminatório do que essa idéia de pensar que o
integrante da vila popular não é capaz de escolher o seu Conselheiro? Eu
poderia chamar isso de discriminação, porque a proposta que está para ser
votada é aquela em que as pessoas que vão ser Conselheiros vão passar por um
curso, vão conhecer o ECA e são pessoas que já há muito tempo estão ligadas a
esse Estatuto da Criança e do Adolescente.
E mais, se somos contrários à prova, é apenas por uma condição técnica.
Imaginem os Senhores, os Conselheiros estão dentro do Município, dentro desse
espectro que são os agentes públicos, na condição de CCs, mas um pouco mais
disso. Por quê? Porque eles não são
demissíveis ad nutum, que é, na
verdade, a característica principal do CC. Significa que eles estão mais
próximos de servidores públicos. Ora, a nossa Constituição, no art. 37, inciso
II, diz que, para alguém entrar no serviço público, é preciso fazer concurso de
prova ou concurso de prova e título. Meu amigo João Batista Marçal, o que
querem agora com essa prova? Querem legitimar que daqui a dois anos todos esses
Conselheiros possam entrar na Justiça e pedir estabilidade dentro das suas
funções públicas , porque já terá passado os dois anos do estágio probatório e
teremos, então, todos os Conselheiros entrando e só não entrarão aqueles que
não quiserem. Todos os Conselheiros poderão entrar na Justiça e reivindicar
estabilidade. Sabem quem, na verdade, estará nesse Conselho, já que, de acordo
com a proposta do PT, é um conselho elitizado? A maioria das pessoas que
estarão compondo esse conselho serão vinculadas ao PT, e estarão legitimadas
como funcionários públicos sem, na verdade, prestar um concurso, mas
prestando o concurso suficiente para
satisfazer a exigência da Constituição.
Então, o que queremos é que
o PT possa, da mesma forma como já aconteceu em anos anteriores, oferecer a
oportunidade para que todas as pessoas ligadas ao trato da criança e do
adolescente possam passar pela eleição, e, depois, não abandonar essas pessoas
como aconteceu até agora. É preciso dar para os Conselheiros a estrutura
necessária para que possam exercer as suas funções junto às crianças. O que
está acontecendo é que a administração do Município não dá para os Conselheiros
as condições necessárias para que possam exercer suas funções e, depois, cobram
desses Conselheiros. Ontem, no debate na televisão, chegou-se ao máximo de
dizer que, em três anos, aquelas reclamações de que foram vítimas oito
Conselheiros, na verdade, era uma aberração. Ora, três anos, admoestações que
nem se sabe a origem! Foram seis Conselheiros, mas ontem foi dito que eram oito
Conselheiros. Na verdade, esses sofismas em que alguns integrantes da Bancada
do PT são craques, acredito que só podem ter aprimorado em algum curso de
especialização, porque não acredito que, sozinhos, tenham aprendido tanto nessa
arte. Obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Décio Schauren para discutir.
O SR. DÉCIO SCHAUREN: Senhor Presidente e Senhores Vereadores, esse debate
está sendo feito pela III Legislatura e eu participo dele pela terceira vez. O
debate continua mais polêmico do que na primeira. Por quê? Porque o debate
suscita as questões. Ninguém pode, aqui, subir à tribuna, e dizer que aqueles
que são contra a prova não querem a especialização dos Conselheiros, não querem
a qualificação dos Conselheiros. Isso é falso, isso é falta de humildade para
reconhecer que esse debate vai muito longe ainda. Quanto mais debatemos, parece
que menos conhecemos essa questão. No momento em que assumirmos isso, o debate
irá melhorar, vão melhorar as posições que vamos tirar deste Plenário.
O que se pode perceber aqui,
nas diversas intervenções dos 31 Vereadores que falaram até agora, são
diferenças de concepção quanto ao que seja a função de Conselheiro Tutelar. O
Ver. Motta colocou uma posição que eu defendo há muito tempo, a de que
Conselheiro Tutelar não é um emprego qualquer do Município, não se está fazendo
um concurso para um cargo no Município. O grande perigo da prova é esse, é
esquecer que Conselheiro Tutelar é uma função Pública de confiança popular, e é
eletiva. Defendo sim a especialização
dos candidatos ao Conselho Tutelar. Eu ouvi
todos os Vereadores que falaram até este momento e talvez os que mais deveriam estar ouvindo,
não o estão fazendo. Há uma diferença
de concepção muito clara quanto ao que seja a função de Conselheiro Tutelar.
Defendo a especialização, mas não é a prova que vai avaliar a qualificação ou a
capacitação dos candidatos. Deve haver formas de avaliar essa qualificação,
porque a função é especializada. Essa especialização não é restrita à questão
teórica, nem acadêmica, porque, senão, o Juizado de Menores poderia
continuar tentando fazer a função que
os conselheiros fazem hoje, mas o Juizado de Menores não conseguiu, cumprir essa
função. Por isso o Estatuto, dentro de uma nova concepção, estabeleceu uma nova
forma de fazer cumprir e zelar pelo direito das crianças e adolescentes e essa
função é essencialmente prática, porque os juízes não iam nas vilas da
periferia pobre onde a maioria dos problemas acontecem, verificar um problema,
enfrentar pais violentos e gangues de tóxicos.
Penso que, principalmente,
é o critério da prática anterior dos
candidatos, essa é a verdadeira questão que temos que avaliar, porque uma prova
de alguns minutos ou de algumas horas,
não vai avaliar isso. Na verdade o que vai fazer com que os nossos
conselheiros sejam cada vez mais qualificados é que no processo de escolha haja
o máximo de discussão e participação da população, e que esse processo seja cada
vez mais qualificado. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): O último Vereador inscrito é este Vereador,
que cede o seu tempo ao Ver. José Valdir.
(Manifestações nas galerias.)
Estão suspensos os
trabalhos.
(Suspendem-se os trabalhos
às 12h44min.)
O SR. PRESIDENTE (às 12h45min): Estão reabertos os trabalhos. O Ver. José Valdir
está com a palavra.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente e Srs. Vereadores.
Em primeiro lugar, quero agradecer ao Vereador Presidente a cessão do
tempo, já que o Presidente professa as mesmas concepções do Ver. Décio
Schauren, do Ver. Antônio Losada e vai votar centralizadamente com a Bancada.
Eu quero refletir sobre 3
questões. A primeira questão que estamos discutindo e que deve ser levada em
conta é a natureza da atividade do Conselho Tutelar. O Conselho Tutelar é um
serviço público essencial, permanente, cujo "servidor", cujo executor desta tarefa é escolhido pelo
voto popular. Realmente, é uma situação nova no cenário jurídico deste País.
Inclusive o Parecer da Procuradora Vanesca aponta isso.
A questão que se coloca é que este representante não é um mero
representante da comunidade, como poderia parecer, é um agente eleito pela
comunidade para prestar um serviço público essencial que tem uma especificidade
que lida com um problema extremamente complexo, que é a questão da criança e do
adolescente, especialmente a criança e o adolescente em situação de risco.
A segunda questão que eu gostaria de refletir é se, dada essa
natureza peculiar do Conselheiro
Tutelar que, por um lado, exerce um serviço público essencial e
permanente e, por outro lado, é eleito pelo voto deve ou não haver uma
pré-qualificação. Essa pré-qualificação
entra em choque com a participação
popular? O Ver. Elói Guimarães acha que
sim. Permito-me divergir dessa posição. Como vamos exigir a pré-qualificação?
De duas maneiras, através de uma prova ou através de nível de escolaridade.
Para diretores é exigido o nível de escolaridade. Aqui não é o caso. Aqui se exige
conhecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente e nem de todo o Estatuto, porque o Substitutivo do Ver. Antonio
Hohlfeldt aponta os artigos sobre os quais é importante verificar qual é a
pré-qualificação do candidato. Como ninguém quer exigir escolaridade, como vamos aferir a pré-qualificação? Através da prova. Tem razão quem
é contra a prova, porque ela sozinha não qualifica, mas não estamos pensando em
uma prova solteira, mas que o processo de qualificação, por ser um processo,
começa, para nós, com a exigência
mínima do conhecimento do Estatuto que é a ferramenta de trabalho do Conselheiro
eleito e depois continua o processo.
Após a eleição deve haver um
curso de qualificação, mas não como está descrito na Emenda do Ver. Corbellini
onde o curso é de qualificação para os candidatos concorrerem. Nós achamos que
após a eleição dos Conselheiros e dos titulares temos que fazer um curso de
qualificação e o processo não para aí. Temos que lutar para que os Conselhos
Tutelares tenham aquela retaguarda de
serviços que é deficiente em Porto Alegre.
Não dá para fugir da questão
da pré-qualificação. Pela natureza do trabalho do Conselheiro, é importante ter
qualificação. É absolutamente diferente dizer que vamos fazer um curso e, aí,
as pessoas que dizem que o voto popular resolve tudo, mesmo esses não acreditam
totalmente nisso porque dizem que tem que ter um curso capacitando aqueles que
vão concorrer. Ora, o Ver. Corbellini, que quer um curso para capacitar quem
vai concorrer, acha que pode não ter gente suficientemente preparada para
concorrer. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Apregoamos a emenda nº 14 de autoria do Ver. Fernando Záchia que altera
a redação do art. 6º, aposta ao PLE nº 36/97.
(O Sr. 2º Secretário lê a
Emenda.)
O SR. PRESIDENTE: Encerrada a discussão. Em votação O Ver. Hélio Corbellini está com a
palavra, para encaminhar.
O SR. HÉLIO CORBELLINI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, Srs. Conselheiros,
cidadãos, cidadãs, entramos no processo de votação e eu penso que todos aqui
estão convencidos de que mais do que uma questão de método, hoje nós discutimos
as questões conceituais. E um dos conceitos que eu acho que ficou muito claro
para todos os Srs. Vereadores foi de que o conselheiro tutelar não é um cargo,
mas uma função de relevância social. É um cidadão que, vocacionado para este
fim, pega o seu saber e com aquela sua sabedoria popular desempenha uma função
que se especializa - e deve ser especializada - no atendimento daquilo que é
mais caro para a sociedade: a criança e o adolescente.
Quando surgiu o Projeto do
Executivo, esta Casa começou a assumir uma febre, porque estamos num processo
de discussão das questões importantes da sociedade, e surgiram, em relação ao
Projeto do Executivo, trinta e poucas emendas. E a sabedoria popular acumulada
nesta Casa achou por bem fazer a
consolidação de todos os conceitos, porque seria a mediação dos interesses
difusos da sociedade, e elaborou, através de um acordo, o Substitutivo nº1.
E aqui eu venho, em nome do Partido
Socialista Brasileiro e em nome de outras bancadas que fizeram parte deste
acordo, defender, Srs. Vereadores, que se aprove o Substitutivo nº1, para que,
depois, se discutam as emendas que aprofundam ou reduzem aqueles conceitos que
apreendemos nessas quatro ou cinco discussões que já fizemos nesta Casa. Sempre
tendo a lembrança, Srs. Vereadores, de que a sabedoria popular vem do saber e o
saber é sim o conhecimento de algo e o domínio de algo. É só esse o conceito. A
sabedoria popular muitas vezes é dominada por ideologias contrárias às
aspirações populares, que a escravizam
ou a subjugam. Essa é a sabedoria que temos que saber fazer aflorar e permitir
que ele transite de forma democrática. Isso é uma conquista dos Conselhos e do
Movimento Popular e não vai mais ficar só nas leis do Executivo, mas nesta
Legislatura ela será e ficará definitivamente incorporada à LOM, porque assim
tramita uma lei.
Convido os Senhores Vereadores a refletir sobre tudo o que
discutimos, sobre todos os acordos que fizemos, não em forma de troca, mas
sempre no interesse maior, que é o zelo pela criança e o adolescente, nosso
cotidiano, valor permanente no nosso dia-a-dia. Votem sim ao Substitutivo nº 1.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Em votação a prorrogação da Sessão por duas horas. (Pausa.) Os Srs.
Vereadores que aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO por unanimidade.
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Nereu D'Ávila está com a palavra.
O SR. NEREU D'ÁVILA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, com muita honra e
distinção encaminho, também, pela Bancada do PFL, atendendo indicação do Ver.
Reginaldo Pujol.
Diz o ditado popular:
"Da discussão nasce a luz". Não podemos negar que, da discussão
desses dois dias aqui na Câmara e pela mídia, houve dois méritos. O primeiro de
ampliar-se para a população uma discussão que é muito importante em relação à
criança. Todos devem interessar-se por isso, porque não é um problema da
Câmara, mas da humanidade.
Segundo, aqui, hoje de
manhã, abriu-se outra réstia de luz com alguns pronunciamentos, como por
exemplo, o do Ver. João Motta. Se fosse eu quem dissesse o que ele diz, alguns
mais radicais ou mais obtusos poderiam
pensar que não há legitimidade do partido que se auto-intitula o dono do
movimento popular. Mas, vindo de alguém com a competência do Ver. João Motta,
nós vemos acender uma luz verde no fim do túnel.
É necessário coerência, meus
caros colegas. Se foi feita uma opção pela eleição popular dos Conselheiros,
fica absolutamente incompatível com aquilo que foi o final do discurso do nobre
Líder do PT, dizendo que a questão da competência e a questão da prova são excludentes. O nobre Líder quis dizer
que fazer-se a prova não quer dizer estar se violentando o processo eletivo. Em
nosso entendimento está sim, porque se o legislador federal quisesse
estabelecer critérios de que somente os técnicos lidassem com a criança,
evidentemente que seria estabelecido concurso público. Agora, ao se estabelecer, ao dar a população o livre arbítrio de sair com o seu título e ir escolher um
Conselheiro, atribui-se a eles a competência com todos os seus caracteres de
representatividade, com toda a sua extensão de soberania e, nessa extensão,
encontra-se, evidentemente, a situação
de que, se ele preencher os requisitos estabelecidos pela Lei Federal, por exemplo, a maioridade, não
mais precisaria de requisitos. A lei federal estabeleceu aquilo que a lei municipal deve
aferrar-se, dizer que a lei municipal pode tudo é sofisma, porque ela se
encontra dentro da hierarquia das leis e não pode fugir a essa correlação de forças. Por isso,
falou-se em qualificação, eu sustento
que a qualificação é prescrita na lei,
como no meu pronunciamento anterior,
verificou-se que eles têm que fazer
curso de dois anos e participar de seminários referentes ao ECA e ali
então nessa antecedência os Conselheiros entram em intimidade com o
Estatuto da Criança e do Adolescente. A questão da prova, o
Ver. Elói Guimarães pinçou muito bem, ela tem um conteúdo altamente subjetivo. Quem já participou
de exames escritos, orais de concurso
sabe disso. Há poucos dias foi realizado o concurso da FEBEM e foram
colocados trechos de um livro de um
cidadão que está com grande
legitimidade, ele está cobrando da
Nação a sua situação de sequer ter
nome, de ser um zé-ninguém, de ser
atirado pelas “febens” da vida,
ele está cobrando e vai ganhar. Do livro desse cidadão foram retirados
trechos e colocados na prova, no concurso da FEBEM e, dadas as três opções para o cidadão ver qual era a resposta,
havia uma em que duas das opções - a
minha filha fez o concurso - se enquadravam
no texto formulado. É sim uma maneira subjetiva de se fazer prova e
levar alguns ao sucesso e outros
à derrota.
O SR. PRESIDENTE: Em votação.
O SR. NEREU D'ÁVILA: Sr.
Presidente, não concluí.
O SR. PRESIDENTE: Imaginei que V. Exa. tivesse terminado o seu discurso, uma vez que já
passou o tempo. Para concluir, nobre Vereador.
O SR. NEREU D'ÁVILA: Agradeço a V. Exa.. Quero cumprimentá-lo, Sr.
Presidente, pela serenidade com que tem dirigido estas tensões normais da
Câmara, e mais, cumprimento V. Exa. porque tem sabido desvincular-se de
possíveis tutelas partidárias e tem presidido a Câmara como verdadeiramente ela
requer: como um magistrado. Parabenizo V. Exa.
Concluo dizendo, então, que,
de tudo que foi dito, eu vou ter o egoísmo - e peço perdão pelo egoísmo - de
pinçar aquilo que achei de mais importante de toda esta discussão.
O mais importante foi dito pelo Ver. João Motta, do PT, a quem
respeito e admiro pelos seus conhecimentos. Foi dito o seguinte - e me
incorporo e sou parceiro dele, e acho que muitos também o são - que a discussão
não será encerrada com a votação desta lei, porque nós temos muito ainda, todos
nós, que aprender porque temos um objetivo, que é o de servir á criança e ver
qual a melhor maneira de ela não ser prejudicada.
Peço a votação contrária ao
Substitutivo nº 01 porque ele traz no seu bojo a famigerada prova. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador).
O SR. PRESIDENTE: Em votação nominal, por solicitação da Vera. Maria do Rosário, o
Substitutivo nº 1. (Após a chamada.) 25 votos SIM, 03 votos NÃO. Está APROVADO o Substitutivo nº
01. Prejudicados, portanto,
Substitutivo nº 02, o Projeto original e as Emendas a eles apostas.
A Mesa solicita que o Sr. 2º Secretário, Ver. Guilherme Barbosa,
leia a Declaração de Voto, que temos
sobre a Mesa.
O SR. 2º SECRETÁRIO:
(Lê.)
“Voto no Substitutivo nº 1,
para acompanhar a posição da Bancada do PT, que decidiu votar favorável ao
mesmo, uma vez que é resultado da negociação entre o Projeto enviado pelo
Executivo e as posições surgidas nos debates da Câmara. No entanto, minha
convicção e posição pessoal é contrária à realização de prova como requisito
para a candidatura de Conselheiro Tutelar.
A função de Conselheiro
Tutelar é uma função pública de confiança popular que é eletiva. Portanto, não
se pode confundir o Conselheiro Tutelar com um empregado da Prefeitura. Há
apenas uma vinculação administrativa, a nível dos recursos para a infra-estrutura
dos Conselhos e remuneração da função. Os Conselheiros têm autonomia, quanto às
decisões no exercício da função, de zelar pelo cumprimento dos direitos da
criança e do adolescente. Eventuais falhas ou crimes são julgados pela
Corregedoria ou pelo Ministério Público. A função de Conselheiro Tutelar deve
ser obrigatoriamente uma função especializada quanto à compreensão do espírito
do ECA e aplicação do mesmo, na prática.
Entendo que a prova não é
instrumento adequado para avaliação da capacidade dos candidatos a Conselheiro
Tutelar. Ao contrário: há perigo de se confundir a Função com mais um cargo ou
emprego do Município.
A função de Conselheiro Tutelar surgiu, não apenas para cumprir
um papel que o Juizado de Menores não conseguia cumprir na plenitude, mas para
fazer cumprir, na prática, os direitos e deveres das crianças e adolescentes
dentro de uma nova concepção expressa pelo ECA. Não é um breve momento de uma
prova escrita, ou mesmo prática, que vai aferir a aptidão dos candidatos.
A qualificação dos
Conselheiros não pode ser, simplesmente, reduzida a uma qualificação acadêmica.
Muito mais do que isso, deve-se avaliar a sua prática anterior como cidadão, a
partir do enfoque do ECA. O Conselheiro lida, essencialmente, com questões
práticas, como o acompanhamento direto de casos, muitas vezes, enfrentando
situações de risco, como pais violentos, e toda sorte de conflitos
sócio-familiares, necessitando, inclusive, preparo psicológico para tal.
A participação em um curso
sobre o ECA, patrocinado pelo CMDCA, com a avaliação dos candidatos, pode
contribuir, de forma bastante efetiva, para a eleição de Conselheiros
qualificados. Mas entendemos, acima de tudo, que a eleição dos candidatos mais
capacitados para o cumprimento dos preceitos do ECA depende de um processo
qualificado, com participação popular cada vez mais ampla e qualificada no
processo de escolha dos Conselheiros Tutelares.
Vereadores Décio Schauren,
Antônio Losada, Renato Guimarães, João Motta e Clovis Ilgenfritz.”
O SR. PRESIDENTE: Não há mais Declarações de Voto sobre a Mesa. Conforme entendemos - os
Srs. Vereadores entraram em acordo de liderança -, serão votados os Destaques e
as Emendas, na próxima sessão, na segunda-feira, a partir das 14 horas.
Visualmente não há quórum.
Estão encerrados os
trabalhos.
(Encerra-se a Sessão às
13h14min.)
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